sexta-feira, 22 de junho de 2012



Bertasos, Erico, Quintana, Globo, Rua da Praia

Eu e mais a torcida do Inter (tá bem, a do coirmão também, vai) ficávamos na frente da Livraria do Globo da Rua da Praia ou entrávamos para comprar livros e impressos. O sonho era ler tudo. Lá pelas décadas de 1940, 1950 e 1960 do século passado tivemos editores lendários como Henrique Bertaso, José de Martins, José Olympio, Jorge Zahar e Ênio Silveira, entre outros.

Eram editores que tinham ideias, posições, atitudes, ideologias, liam e pensavam no livro não só como mercadoria.

A reedição de A Globo da Rua da Praia, do editor José Otávio Bertaso (1930-2011), o filho mais velho de Henrique, além de resgatar a memória da histórica editora, mostra que José Otávio merece ser lembrado ao lado dos já citados e de outros editores que fizeram história e revolucionaram o segmento editorial.

Henrique Bertaso e Erico Verissimo tornaram famosa, nacional e internacionalmente, a pequena editora que, sem nenhuma tradição no ramo, na remota Porto Alegre, marcou o mercado publicando autores  nacionais como Mario Quintana, Erico Verissimo, Graciliano Ramos, Tânia Faillace,  Darcy Azambuja e  Silvio Duncan, e estrangeiros do porte de Proust, Thomas Mann, Conrad, James Joyce, Jorge Luis  Borges, Aldous Huxley, Agatha Christie, Virginia Woolf, Honoré de  Balzac, Steinbeck, Somerset Maugham e tantos outros.

Traduções primorosas, revisões cuidadosas, requintes gráficos, a Globo era especial, de primeira, e seus selos significavam qualidade, credibilidade e prestígio. Bertaso assumiu a direção de empresa em tempos de crise - no meio da década de 1950 - e a capitaneou até 1986, quando as Organizações Globo a adquiriram.

Com apresentações de Luis Fernando Verissimo, Maria da Glória Bordini e Eliana Sá de Albuquerque Araújo, o texto elegante e bem-humorado de Bertaso, homem discreto que comandou a tradução e a publicação de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, e do clássico moderno Incidente em Antares, de Erico Verissimo, mostra uma Porto Alegre e um Rio Grande do Sul que tinham os velhos e saudosos Correio do Povo; Casa Masson; Bromberg; J.H. Santos; Neugebauer; Varig e outros empreendimentos que estão incorporados à memória e à cultura dos gaúchos.

Eram tempos de Rua da Praia chique, europeia, cheia de charme. Era muita coisa. Que bom que José Otávio Bertaso registrou o muito que viveu em meio aos livros, aos autores e às histórias. Editora Globo, 334 páginas.
(Jaime Cimenti)

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