Bertasos, Erico, Quintana, Globo,
Rua da Praia
Eu e
mais a torcida do Inter (tá bem, a do coirmão também, vai) ficávamos na frente
da Livraria do Globo da Rua da Praia ou entrávamos para comprar livros e
impressos. O sonho era ler tudo. Lá pelas décadas de 1940, 1950 e 1960 do
século passado tivemos editores lendários como Henrique Bertaso, José de
Martins, José Olympio, Jorge Zahar e Ênio Silveira, entre outros.
Eram
editores que tinham ideias, posições, atitudes, ideologias, liam e pensavam no
livro não só como mercadoria.
A
reedição de A Globo da Rua da Praia, do editor José Otávio Bertaso (1930-2011),
o filho mais velho de Henrique, além de resgatar a memória da histórica
editora, mostra que José Otávio merece ser lembrado ao lado dos já citados e de
outros editores que fizeram história e revolucionaram o segmento editorial.
Henrique
Bertaso e Erico Verissimo tornaram famosa, nacional e internacionalmente, a
pequena editora que, sem nenhuma tradição no ramo, na remota Porto Alegre,
marcou o mercado publicando autores
nacionais como Mario Quintana, Erico Verissimo, Graciliano Ramos, Tânia
Faillace, Darcy Azambuja e Silvio Duncan, e estrangeiros do porte de
Proust, Thomas Mann, Conrad, James Joyce, Jorge Luis Borges, Aldous Huxley, Agatha Christie,
Virginia Woolf, Honoré de Balzac,
Steinbeck, Somerset Maugham e tantos outros.
Traduções
primorosas, revisões cuidadosas, requintes gráficos, a Globo era especial, de
primeira, e seus selos significavam qualidade, credibilidade e prestígio.
Bertaso assumiu a direção de empresa em tempos de crise - no meio da década de
1950 - e a capitaneou até 1986, quando as Organizações Globo a adquiriram.
Com
apresentações de Luis Fernando Verissimo, Maria da Glória Bordini e Eliana Sá
de Albuquerque Araújo, o texto elegante e bem-humorado de Bertaso, homem
discreto que comandou a tradução e a publicação de Em busca do tempo perdido,
de Marcel Proust, e do clássico moderno Incidente em Antares, de Erico
Verissimo, mostra uma Porto Alegre e um Rio Grande do Sul que tinham os velhos
e saudosos Correio do Povo; Casa Masson; Bromberg; J.H. Santos; Neugebauer;
Varig e outros empreendimentos que estão incorporados à memória e à cultura dos
gaúchos.
Eram
tempos de Rua da Praia chique, europeia, cheia de charme. Era muita coisa. Que
bom que José Otávio Bertaso registrou o muito que viveu em meio aos livros, aos
autores e às histórias. Editora Globo, 334 páginas.
(Jaime
Cimenti)
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