19
de junho de 2012 | N° 17105
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
Milonga por aí
Não é
de hoje que a milonga tem força no universo da canção urbana, cá no sul; mas é de
agora, talvez, a consciência da intensidade do apreço que há entre o presente
gaúcho e o gênero musical. Há trabalhos de investigação sobre o tema saindo do
forno (de Marcos Sosa, historiando a milonga e comparando Bebeto Alves com
Vitor Ramil) ou sendo gestados (de Felipe Azevedo, alinhando com grande
originalidade Bebeto Alves e seu Nego Véio com Itamar Assumpção e seu Nego Dito).
Mas tem mais.
Um é
o ótimo CD novo de Richard Serraria, Pampa Esquema Novo. A trajetória do autor
recomenda que se preste atenção a tudo que faz, porque é daqueles artistas
sempre em busca da melhor forma de avançar.
Avançar
no conhecimento da vida, no acompanhamento das novidades, no desvelamento dos
tesouros populares fortes mas negligenciados. Desde a banda Bataclã F.C., que
fez dois CDs que estão entre as melhores coisas da geração, o Richard furunga
em certos limites, pagando pra ver os nexos entre canção pop e negritude, entre
Porto Alegre e o Prata, entre o sul da América e o resto do mundo.
Neste
disco, o Richard acolhe de tudo que tem a ver com estilos populares, negros e
gauchescos, samba, candombe, afoxé, maracatu e, claro, milonga. Aliás tem uma
canção, Milonga de Todos os Lugares, que é de ouvir como oração, celebração
fraternal, abraço afetuoso: ali se canta a milonga que nos precede, nos
condena, nos protege. (O Serraria é ligado nas dimensões transcendentais da
vida.) Exagero meu? Então vai lá e ouve: richardserraria.blogspot.com.br. Depois
me diz.
Agora
saiu outro, com outros temperos e a mesma vontade de expandir os horizontes do
gênero, que parecia modesto mas se revela pródigo, prodigioso. É Milonga em
Blue (Notas do Delta), CD de Oly Jr & os Tocaios. Também ótimo, por outros
motivos: o Oly tem já uma boa quilometragem rodada com aquela guitarra de
blues, e não é de agora que misturou essa sonoridade (e a ética que ela evoca) com
milonga; mas agora ele resolveu fazer outra experiência, num disco de
interpretação de clássicos recentes da milonga moderna.
Então
ele recanta Qué se Pasa, do Bebeto Alves, Deixando o Pago, do Vitor Ramil sobre
poema de João da Cunha Vargas, e Ponteio de Prosa, do Mauro Moraes, e outras,
total de 10, cada interpretação mais bacana que a outra, renovando a validade
das já lindas canções. Vai lá ver, em www.myspace.com/olyjr.
E
quer saber? Que troço bem bom!
Nenhum comentário:
Postar um comentário