02
de junho de 2012 | N° 17088
CLÁUDIA LAITANO
Hologramas
Entre
as experiências sensoriais inusitadas proporcionadas por novas tecnologias –
coisas insólitas como observar o interior do próprio corpo no monitor de uma TV
ou conferir na internet a imagem que um satélite captou do telhado da sua casa
–, assistir a um artista morto cantando e dançando em três dimensões no palco
deve estar na lista das mais bizarras.
A
tecnologia nem é tão nova assim – na verdade, trata-se apenas de uma
superprojeção em 3D em tamanho natural –, mas o impacto da ressurreição virtual
do rapper Tupac Shakur, morto em 1996, durante um show realizado em abril, nos
Estados Unidos, tem feito brilhar de cobiça os olhos de empresários e herdeiros
de artistas mortos.
A
possibilidade de fazê-los trabalhar de graça sem a necessidade de providenciar
cachês, hospedagem ou toalhas brancas no camarim – e eliminando completamente o
risco de faniquitos ou excesso de consumo de substâncias químicas – anuncia-se
como o melhor dos mundos (e dos outros mundos) para o showbiz. Artistas como
Michael Jackson, Elvis Presley e Marilyn Monroe foram chamados a interromper
seu descanso eterno para retornar aos palcos, numa lista que, até a última
contagem, incluía nomes como Jimi Hendrix, Kurt Cobain e Whitney Houston.
Por
enquanto, as estrelas desse baile macabro são apenas os grandes artistas –
gente famosa que deixou tantos registros audiovisuais da sua passagem pela
Terra, que poderia viver uma segunda encarnação inteira circulando entre os
vivos apenas na forma de fantasma holográfico.
Mas
como anônimos também adquiriram o hábito de fotografar-se e filmar-se o tempo
todo, é possível imaginar um futuro, nem tão distante assim, em que nossos
bisnetos poderão assistir TV sentados ao lado dos queridos bisavós que morreram
antes mesmo de eles nascerem.
Os
hologramas musicais, como qualquer bom truque de mágica, fascinam os
espectadores porque usam a ilusão para dar aparência de realidade a façanhas
que contrariam as leis da natureza – feitos como aparecer e desaparecer,
levitar ou caminhar sobre as águas. No caso dos ídolos que voltam à vida no
palco, a tecnologia vai ao encontro das duas mais antigas fantasias do homem:
viver para sempre e reencontrar pessoas que já se foram.
Apenas
com essas duas promessas, religiões vêm nascendo e morrendo desde que o mundo é
mundo – ou melhor, desde que o homem é homem, ou seja, tem consciência da
própria finitude. Também na arte, o tema tem sido explorado até onde a vista
alcança: do mito grego de Orfeu, que volta ao reino dos mortos para tentar, em
vão, resgatar a amada Eurídice, ao cemitério maldito de Stephen King, que traz
os mortos de volta, mas nunca exatamente como eles eram antes.
O
sonho de driblar a morte tem assombrado a humanidade como um fantasma desde
sempre. A novidade é que agora inventaram um jeito de cobrar ingressos para
vê-lo cantando num palco.
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