FERREIRA
GULLAR
Uma questão de bom senso
Todo
mundo sabe que, dos que se viciam em drogas, poucos conseguem largar o vício
Falando
francamente, o que você prefere, a segurança ou a insegurança, o previsível ou
o imprevisível? Em suma, quer acordar de manhã certo de que as coisas vão
caminhar normalmente ou prefere estremecer ao pensar no que fará, neste dia, o
seu filho drogado?
Acho
muito difícil que alguém prefira viver no desespero, temendo o que pode ocorrer
nesse dia que começa. Estou certo de que todo mundo quer viver tranquilo, certo
de que as coisas vão transcorrer dentro do previsível.
Mas
quem se droga comporta-se, inevitavelmente, fora do previsível, ou não é? Já imaginou
a apreensão em que vivem os pais de um filho drogado? Começa que ele já não vai
à escola e, se vai, arma sempre alguma encrenca por lá. Se já trabalha,
abandona o emprego e começa a roubar o dinheiro da família para comprar drogas.
Se
isso se torna inviável, entra para o tráfico, passa a vender drogas ou torna-se
assaltante, porque tem de conseguir dinheiro para comprá-las, seja de que modo
for. Daí a pouco, não apenas assalta e rouba como também mata. Os pais já não
reconhecem nele o filho que criaram com tanto carinho. Pelo contrário, o temem,
porque, drogado, ele é capaz de tudo.
E
mesmo assim há quem seja a favor da liberação das drogas. Conheço muito bem o
argumento que usam para justificá-la: como a repressão não acabou com o tráfico
e o consumo, a liberação pode ser a solução do problema. Um argumento
simplista, que não se sustenta, pois é o mesmo que propor o fim da repressão à criminalidade
em geral. O argumento seria o mesmo: por que insistir em combater o crime, se
isso se faz há séculos e não se acabou com ele?
Fora
isso, pergunto: se não é proibida a venda de cigarros e bebidas, por que há tráfico
dessas mercadorias? E pedras preciosas, é proibido vendê-las? Não e, no
entanto, existe tráfico de pedras preciosas. E ainda assim os defensores da
liberação das drogas acham que com isso acabariam com o problema. Claro,
Fernandinho Beira-Mar certamente passaria a pagar imposto de renda, ISS, ICMS e
tudo o mais. Esse pessoal parece estar de gozação.
Todo
mundo sabe que, dos que se viciam em drogas, poucos conseguem largar o vício. E,
se largam, é por entender que estavam sendo destruídos por ele, uma vez que
perdem toda e qualquer capacidade de refletir e escolher; são verdadeiros robôs
que a droga monitora.
Qual
a saída, então? No meu modo de ver, a saída é uma campanha educativa, em larga
escala, em âmbito nacional e internacional, para mostrar às crianças e aos
adolescentes que as drogas só destroem as pessoas.
E
isso não é difícil de demonstrar porque os exemplos estão aí aos milhares e à vista
de quem quiser ver. Os traficantes sabem muito bem disso, tanto que hoje têm
agentes dentro das escolas para aliciar meninos de oito, dez anos de idade.
Confesso
que tenho dificuldade de entender a tese da descriminalização das drogas. Todas
as semanas, a polícia apreende, nas estradas, em casas de subúrbio, em armazéns
clandestinos, toneladas de maconha e de cocaína. É preciso muitos drogados para
consumir essa quantidade de drogas.
Junto
às drogas, apreendem, muitas vezes, verdadeiros arsenais de armas modernas de
grosso calibre. É preciso muito dinheiro e muita gente envolvida para que o tráfico
tenha alcançado tal amplitude e tal nível de eficiência. Como acreditar que
tudo isso desaparecerá, de repente, bastando tornar a venda de drogas comércio
legal? Sem falar nos novos tipos sofisticados de cocaína e maconha, que estão
diversificando o mercado.
A
verdade é que o tráfico existe e cresce porque cresce o número de pessoas que
consomem drogas. Como se sabe, não pode haver produção e venda de mercadoria
que ninguém compra. Se se reduzir o número de consumidores, o tráfico se
reduzirá inevitavelmente. E a maneira de fazer isso é esclarecer os jovens do
desastre que elas significam.
O
resultado maior não será junto aos viciados crônicos, que tampouco devem ser
abandonados à sua má sorte. Virá certamente do esclarecimento dos mais jovens,
dos que ainda não foram cooptados pelo vício. A eles devem ser mostrado que as
drogas destroem inevitavelmente os que a elas se entregam.
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