terça-feira, 6 de agosto de 2013


06 de agosto de 2013 | N° 17514
DAVID COIMBRA

Fogo no piano

Uma vez, Jerry Lee Lewis botou fogo no piano.

Jerry Lee Lewis é um dos grandes do rock’n roll de todos os tempos. Um dos pioneiros. Aprendeu a tocar piano sozinho. Teve uma única lição, mas não gostou da forma como o professor tocava e decidiu aprender por si mesmo, do jeito dele. Pediu algumas dicas para um primo que tinha noções do instrumento e, a partir daí, criou seu próprio estilo, misturando tudo que conhecia.

Jerry Lee Lewis tocava, e toca, furiosamente, às vezes com os pés, às vezes sentando nas teclas, toca com alegria e irreverência, toca como quem brinca. Um monstro. Não é por acaso que o chamam de The Killer. O matador. A fera do rock.

Nos anos 1950, Jerry Lee Lewis tinha uma rivalidade com outra fera, Chuck Berry, ele também um pioneiro. Há quem diga que Chuck Berry foi o inventor do rock. Se não foi o, foi um dos. Era ídolo de John Lennon e de Keith Richards, que, confessadamente, o copiava.

Jerry Lee Lewis e Chuck Berry eram como Grêmio e Inter: digladiavam-se, mas eram iguais. Ou, pelo menos, muito parecidos.

Quando Jerry Lee Lewis tocou fogo no piano, foi por causa de Chuck Berry. Era um show em que ambos iam se apresentar, num grande teatro. Chuck devia fazer o encerramento, Jerry Lee não concordava com isso. Então, enquanto cantava um de seus clássicos, tomou de uma garrafinha com fluido de isqueiro, derramou o conteúdo dentro do piano e acendeu um fósforo. Batia enlouquecidamente nas teclas enquanto as chamas consumiam as cordas do piano. Como Chuck ia superar aquilo?

Chuck e Jerry passaram pelo mesmo tipo de problema, mais ou menos à mesma época. Chuck porque teve um relacionamento com uma índia apache de 14 anos de idade, Jerry porque teve um relacionamento com uma prima de 13 anos de idade. Ambos foram rechaçados pela sociedade americana, caíram no ostracismo e só foram recuperar um pedaço da fama muitos anos depois. Em tudo semelhantes. Como Grêmio e Inter.

O show na Arena

No Gre-Nal de domingo, Grêmio e Inter mostraram mais uma vez como a rivalidade os motiva e como os leva a excelências, um Jerry; o outro, Chuck. Ali estavam dois times concentrados, compactos taticamente, interessados no jogo. Renato, devido à escassez causada pelos desfalques de Zé Roberto, Vargas e Souza, achou um esquema alternativo para o Grêmio. Valorizou os laterais, fechou a zaga, municiou o ataque. E o Inter, se perdeu em organização, ganhou em bravura. Damião e Willians foram heróis na entrega, na vontade e também na desenvoltura. Nenhum dos dois times chegou a tocar fogo no piano, mas deram um show.

A fonte do Juventude

Que rico manancial o Grêmio descobriu nas categorias de base do Juventude. Bressan se consolida como um daqueles velhos beques de confiança, Alex Telles já é um dos melhores laterais do campeonato, Ramiro é um volante que sabe marcar e jogar, e agora surgiu esse serelepe Paulinho no ataque.

Em seu primeiro lance no Gre-Nal, Paulinho pedalou na ponta esquerda, passou pelo marcador e foi derrubado, tirando um “ó” da torcida.

Mostrou, em apenas 30 segundos, que tem personalidade e potencial. Não me surpreenderia se, até o final deste ano, conquistasse uma posição de titular no time.

Argentino ou uruguaio?

Assim como Paulinho, Scocco só precisou de um lance para demonstrar sua capacidade no Gre-Nal.

Aos 36 do segundo tempo, o Inter já com um jogador a menos, Scocco apanhou a bola nas franjas da grande área, evitou a marcação e meteu uma bola em curva, com o lado de dentro do pé, saindo do goleiro Dida e procurando o gol. Dois palmos para cá, entraria.

Só que, ao contrário de Paulinho, Scocco é um jogador conhecido, rodado, com experiência internacional e fama de fazedor de gol.


É uma sombra poderosa que cresce sobre Forlán.

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