04
de agosto de 2013 | N° 17512
VERISSIMO
Mandrake!
Ele
era um homem fino, mas não era aristocrata e muito menos homossexual
– Mandrake!
– O quê? – Mandrake! – O que é isso?
–
Você nunca brincou de Mandrake? – Não!
– A
gente apontava para uma pessoa, dizia “Mandrake”, e a pessoa tinha que ficar
paralisada. Como uma estátua.
–
Nunca ouvi falar. – Mandrake era um mágico. Um personagem de gibi.
– De
quê? – Gibi. Você também nunca ouviu falar de gibi? – Nunca.
–
Histórias em quadrinhos. Mandrake, o Mágico, combatia o mal com seus truques.
Ele estava sempre de fraque e cartola. E tinha um ajudante fortão. Uma espécie
de escravo. Como era o nome do ajudante do Mandrake, meu Deus?
– O
Mandrake vivia de fraque e cartola e tinha um escravo?
–
Não era bem um escravo. Era um companheiro. Chamado, chamado...
–
Não sei se eu estou gostando desse personagem. Um aristocrata, com um escravo...
Não eram amantes, não?
–
Não, não. Naquele tempo não se pensava nisso. Muito mais tarde é que se começou
a desconfiar do Batman e do Robin, por exemplo. Que ali tinha coisa. O Mandrake
era um homem fino, mas não era um aristocrata e muito menos homosexual. Ele era
cerebral, nunca usava a força bruta. O outro é que fazia o trabalho pesado.
–
Mas o superpoder do Mandrake era só o de paralisar os outros? Transformá-los em
estátuas? E depois mandar o “companheiro”, entre aspas, bater no paralisado?.
– Você
pode fazer pouco, mas a verdade é que o Mandrake e o outro eram mais do que
apenas heróis de gibi. Simbolizavam a divisão entre mente e corpo, intelecto e
energia física, o saber e o fazer, que tem sido uma constante da experiência
humana desde o tempo das cavernas. Tinham um significado maior, mesmo para os
leitores de gibi. Não eram pura fantasia juvenil, como Namor, o Príncipe
Submarino, por exemplo.
–
Quem?
–
Namor, o príncipe sub... Esquece. Já vi que esta conversa não vai a lugar
nenhum. Não há diálogo possível entre uma geração que nunca ouviu falar no
Mandrake e a minha.
–
Querido, você ficou bravo só porque eu...
–
Não fiquei bravo. Só me dei conta que esta nossa relação não tem futuro.
Loucura minha, me meter com alguém da sua idade. E não, transformar os outros
em estátua não era o único poder do Mandrake. Ele fazia mágicas de todo tipo.
Transformava punhais em pássaros em pleno voo. Você sabe o que é isso? Punhais
em pássaros!
–
Está bem, está bem. Já sou admiradora do Mandrake. Vem até aqui que eu quero
lhe dar um beijo. Ou então fique paralisado que eu vou até aí. Mandrake!
–
Lothar! – Hein? – Me
lembrei. O nome do ajudante do Mandrake era Lothar.
–
Ótimo. Agora vem cá, vem, seu bobo. E me conte tudo sobre esse Nomar, o
Príncipe Submarino.
–
Namor!
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