02 de agosto de 2013 |
N° 17510
PERFIL WILSON DANTUR -BRAVURA E
AMOR
Aos 84 anos, autor da letra do hino de Canoas conta a
história da obra, aprovada em 1964
Diga “Canoas minha terra” em
algum ponto da cidade e não se surpreenda caso algum canoense o interpele e
complemente: “Município de valor.” É que ocorre com o hino da cidade, um
fenômeno comparado ao do Rio Grande do Sul em relação ao resto do país. Assim
como brasileiros de outros Estados se espantam com o orgulho com que o gaúcho
entoa seu cântico, são poucos os cidadãos sul-riograndenses que sabem tão bem o
hino de seu município quanto os de Canoas.
O que a maioria não sabe é que os
versos surgiram com a mesma naturalidade com que o autor deles caminha ainda
hoje pelas ruas da cidade. O advogado Wilson Dantur é um conhecido quase
anônimo do grande público. Aos 84 anos, ele deixa a casa na Avenida Guilherme
Schell, no Centro, todos os dias, bem cedo. Vai a uma cafeteria no caminho do
escritório, toma um café preto e lê o jornal.
Depois, sobe ao quarto andar do
prédio comercial onde fica seu reduto e atende os clientes. Ao meio-dia, entre
um cumprimento e outro a conhecidos, almoça em um restaurante no Calçadão. Só
ao entardecer, ele volta para o apartamento onde mora com a mulher, Carmen, no
andar inferior ao da filha caçula, Maria Clara. Os outros três filhos – Paulo
César, Maurício e Nádia Maria – moram em outras cidades.
Filho do mascate sírio Aniceto
Dantur, Wilson nasceu em Porto Alegre e estudou no tradicional Colégio Rosário
até os 14 anos. Com a morte do pai, começou a trabalhar, atuando como
office-boy, antes de ingressar na Escola Técnica de Aviação (Etav). Teve de se
mudar para São Paulo, onde aprendeu o ofício. Em 1950, foi transferido pela
primeira vez a Canoas, onde ficou por quatro anos morando e trabalhando na Base
Aérea.
De 1954 a 1959, ficou no Campo
dos Afonsos (RJ), também servindo à Aeronáutica, e somente em janeiro daquele
ano passou a morar definitivamente no município em que vive até hoje.
Dantur convivia com vários grupos
de amigos dentro do 2º Esquadrão de Controle e Alarme. Um deles era o músico
Pedro Klein. Ele havia participado – e perdido – de um concurso para criar um
hino em homenagem ao esquadrão. Mas o amigo Wilson discordava da escolha. Para
ele, a melodia de Klein era a mais bonita. Um dia, ao ver o colega deixando o
refeitório, perguntou se poderia escrever versos para ela. O músico autorizou,
mas questionou para quem seria a homenagem: “a Canoas”, exclamou Dantur.
– Eu vivo cada dia. Não tinha o
pensamento de que iria se tornar o que se tornou. Era o que eu sentia desde
quando cheguei aqui – afirma.
- Canção foi apresentada à
comunidade por Lagranha
Era 1964, e a obra aprovada pelo
comandante da Aeronáutica foi enviada ao amigo, compadre e prefeito Hugo
Lagranha. Comovido com a homenagem, Lagranha organizou um coquetel e
apresentou, pela primeira vez, à comunidade o hino orquestrado por Bruno von Rosenthall.
– Era um dia escuro, chuvoso. E
na hora em que a banda iria tocar, abriu o sol. “Brava gente canoense, sob o
sol tu surgirás” – recorda Dantur, cantarolando o primeiro verso:
– Coincidência enorme!
Ainda demoraria alguns dias para
que a Câmara de Vereadores aprovasse e oficializasse o hino. E quis o destino,
pelas mãos de Wilson Dantur, que a cidade estivesse atrelada aos céus de
maneira definitiva.
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