02 de agosto de 2013 |
N° 17510
EDITORIAIS
O ÚLTIMO ATO
Está marcado para o dia 14 o
início do que pode se converter em ponto culminante ou anticlímax do maior
processo judicial por corrupção e abuso de poder da história brasileira: o
mensalão. A partir dessa data, serão apreciados pelos 11 ministros do Supremo
Tribunal Federal os recursos dos 25 réus condenados no caso. Encontram-se entre
eles algumas figuras de proa da política e dos últimos governos. Há uma
previsível expectativa e até mesmo pressão sobre a mais alta Corte do país.
Como resultado, alguns ministros passaram a ser alvos de insinuações de
políticos e a ter suas vidas investigadas pela imprensa, com a consequente
repercussão nas redes sociais.
Não há o que lamentar no fato de
o Supremo atrair curiosidade e ser acompanhado pelos jornais, emissoras de
rádio e TV e espaços de webjornalismo. É um direito do público saber o que se
passa na Corte. Trata-se de fenômeno relativamente comum nas democracias mais
avançadas, nas quais o Judiciário, como os demais poderes, está submetido ao
escrutínio público por meio da imprensa e das organizações da sociedade civil.
Estranho seria se a mais alta
magistratura da nação se sentisse mais à vontade nos ambientes de isolamento e
segredo característicos dos regimes autoritários, com seus tribunais secretos e
seus processos à revelia. A transparência é um critério de boa governança em
qualquer esfera. A esse propósito, cabe lembrar a recomendação do ministro da Suprema
Corte dos Estados Unidos Louis Brandeis (1856-1941): “A luz do sol é o melhor
desinfetante”.
O mensalão foi uma chaga na vida
política nacional. Como episódios dessa monta dificilmente deixam de produzir
consequências, a nação dele se beneficiou em pelo menos um aspecto: o combate à
corrupção. A publicidade dada aos escândalos deflagrou um repúdio generalizado,
da arte (“Neste país de mandachuvas / Cheio de mãos e luvas / Tem sempre alguém
se dando bem / De São Paulo a Belém”, canta o compositor Seu Jorge) à linguagem
das ruas (“Esse protesto não é contra a Seleção, mas contra a corrupção”,
diziam cartazes erguidos pelos manifestantes nas Jornadas de Junho).
A vida ficou mais difícil para
corruptos e corruptores no Brasil pós-mensalão. Uma parte desse mérito cabe ao
Judiciário, como sugere o fato de que muitos dos manifestantes em protestos
recentes passaram a mencionar o nome do presidente do Supremo, Joaquim Barbosa,
como possível candidato à Presidência, possibilidade descartada pelo próprio
ministro.
Apesar de algumas incertezas,
entre as quais a nomeação de um novo procurador-geral da República pelo
governo, já que o atual representante do Ministério Público deixará o cargo no
dia 15, o que se espera é um desfecho justo para os acusados. O Supremo deve
concluir o exame dos recursos do mensalão sem qualquer margem para a
impunidade, como tem sido o julgamento até agora.
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