domingo, 3 de fevereiro de 2013


ELIANE CANTANHÊDE

Em nome de Deus

BRASÍLIA - A tragédia de Santa Maria ofuscou uma informação importante de domingo passado na Folha: as igrejas arrecadam R$ 21 bi por ano no Brasil, incluindo católicas, evangélicas e centros espíritas.

A revelação foi da repórter Flávia Foreque, com base em dados da Receita Federal obtidos por meio de uma das grandes inovações do país: a Lei de Acesso à Informação.

O valor equivale à metade dos recursos da cidade mais rica de todas, São Paulo, e é maior do que o Orçamento de 15 dos 24 ministérios.

Isso ajuda a explicar a lista da revista "Forbes", dos EUA, com os cinco pastores mais endinheirados do Brasil, entre eles os que têm passaporte diplomático por representarem "interesses do país". Os nomes não surpreendem. Mais uma vez, o espanto é diante dos valores.

Encabeçada por Edir Macedo, da Universal do Reino de Deus, com patrimônio líquido de R$ 1,9 bi, a lista inclui: Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus -dissidente da Universal, como o nome já diz; Silas Malafaia, da Assembleia de Deus; Romildo Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus; e Estevam Hernandes e sua mulher, da Renascer em Cristo, os mais pobrezinhos ("só" R$ 130 milhões).

Fica a pergunta: a arrecadação e o dízimo de algumas das igrejas vão para elas e suas almas, ou para as contas bancárias dos pastores?

Mais do que o complexo emaranhado sociológico e os impulsos psicológicos que levam as pessoas a dar seu suado dinheirinho para coisas -e gente- assim, o que interessa aqui é o reflexo no futuro.

Há igrejas e igrejas, mas, com dinheiro, TVs, rádios, sites, templos e lábia, as religiões, agora pulverizadas, exercem uma influência social, econômica e política crescente. O céu é o limite. Ou o poder?

Quanto mais o Congresso e os políticos se distanciam da opinião pública, mais elas, as igrejas, e eles, os pastores, aumentam seus rebanhos. E essas ovelhas votam...

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