07
de fevereiro de 2013 | N° 17336
PAULO
SANT’ANA
O chato missivista
Quando
topo com um sujeito muito chato, insuportavelmente chato, sempre penso no
seguinte: pobre coitada da mulher dele.
Se
eu me encontro com um chato uma vez por semana ou por quinzena – e ele
sistematicamente me chateia –, calculem então o que deve chatear à sua mulher,
com quem ele mora, com quem ele dorme, almoça e janta todos os dias há muitos
anos!
Toda
mulher de chato é uma heroína. O que devem sofrer os filhos de um chato...
Esses
dias, entrevistei a mulher de um chato. E perguntei a ela: “Como é que tu
aguentas?”.
Ela
me disse que em casa o chato se amansa, é tranquilo, não chateia.
Então,
eu disse para ela: “Quer dizer que em casa ele não chateia? Já sei: em casa ele
é quieto, silencioso, fica se concentrando para nos chatear na rua!”.
Eu
ando às voltas com um chato missivista. É que ele me chateou tanto durante 15
dias, que, para me livrar dele, eu lhe disse: “Está bem, escreve-me explicando
tudo isso”.
E já
há 30 dias que ele não se cansa de me escrever, escreve-me todos os dias, eu já
estou com uma pilha de e-mails dele. E, o pior, em cada dia que me escreve
ocupa mais de 80 linhas!
Já estou
decidido: vou mandar dizer-lhe que não me escreva mais, que venha ao meu
encontro.
Pois
ele é muito mais chato escrevendo do que já é falando.
Não é
só falando ou escrevendo que um chato é chato. Já repararam que chato é chato
até quando está silencioso?
O
chato me escreveu, entre tanta coisa, o seguinte: “Sant’Ana: como é bom
escrever para ti, nem imaginas. É bom escrever para ti porque sei que me lês,
me dás atenção desmedida. Melhor escrever para ti, Sant’Ana, do que falar
contigo.
É que
escreveste na coluna que estás surdo. Então, quando eu te encontro em qualquer
lugar e falo contigo, não tenho certeza de que estás me ouvindo. Enquanto tenho
certeza absoluta, quando te escrevo, de que estás me lendo. E o assunto de hoje
é o seguinte...” (seguem-se não menos do que 80 linhas).
Toda
vez que uma pessoa abordá-lo da forma seguinte, “desculpe, eu não queria ser
chato, mas...”, pode crer que aí vem chatice das grandes.
A
pior ameaça que um chato faz é a seguinte: “Pode ser que eu seja chato, mas vou
te dizer o seguinte...”. É uma catástrofe.
Esses
dois tipos de chato que cataloguei agora são os piores chatos, isto é, os que
confessam que são chatos.
Embora
o chato que não confesse que é chato e até não saiba que é chato constitua também
um flagelo singular.
Tem
também o chato consciencioso, aquele que começa assim: “Tenho certeza de que
vou te chatear, mas sou obrigado a te dizer...”.
E
por aí se vai a coletânea de chatos, encontrada principalmente nos bares, reuniões
e coquetéis.
É muito
difícil defrontar-se com um ajuntamento sem a presença de algum chato.
Se
houver aglomeração em algum lugar, é certo que ali se encontra um chato.
Um comentário:
Amigos, vou dar uma dica:
Coloquem as colunas em TAGS, assim, o site fica mais organizado e as pessoas podem ir diretamente no colunista de sua preferência.
Obrigado pelo trabalho que prestam a sociedade!
Abraços
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