04
de fevereiro de 2013 | N° 17333
L.
F. VERISSIMO
Ditos
Dos
ditos populares, o mais irônico– pra não dizer cínico – é “Pra baixo todo santo
ajuda”. O dito não discute a existência de santos e sua influência em nossas
vidas, mas os divide em duas categorias, os poucos que nos ajudam nos momentos
difíceis, de grande esforço, como subir uma ladeira, e a maioria que só se
apresenta na hora da descida, quando nem precisaríamos de ajuda. Seriam os
santos oportunistas, atrás de uma glória que não merecem.
Outro
dito sábio e irônico, que está sendo muito citado depois da tragédia em Santa
Maria, é “Porta arrombada, tranca de ferro”. Este trata das reincidentes
providências tomadas para que um fato não aconteça, depois do fato acontecido.
Foi
preciso que quase 250 pessoas morressem para que coisas como revestimento
inflamável, alvarás vencidos, falta de saídas de emergência e sinalização interna,
etc. passassem a fazer parte das nossas conversas cotidianas, numa súbita
descoberta do mundo de riscos iminentes e desconhecidos habitado por boa parte
da população, principalmente a população jovem.
O
Ivan Lessa disse que de quinze em quinze anos o Brasil esquece a sua história.
Ou mais ou menos isso. Lessa foi otimista. A memória brasileira é bem mais
curta. Não faz quinze anos que o Renan Calheiros teve que renunciar ao seu
mandato para não ser expulso do Congresso. Hoje é candidato à presidência do
Senado (estou escrevendo antes da eleição, mas Calheiros era tido como
barbada).
Na
época da sua renúncia houve grande indignação, mas a indignação brasileira –
como a memória– dura pouco. É fácil indignar-se. Para nos indignarmos, não
falta a ajuda de todos os santos. Para que a indignação dure e tenha
consequência, precisamos de um empurrãozinho dos santos mais constantes. Que
andam muito relapsos.
No
caso dos crimes em Santa Maria, só nos resta esperar que a indignação dure o
bastante para ter consequência. Que as providências que evitarão outra tragédia
parecida sejam tomadas antes que a indignação seja engolida pela memória curta
e desapareça.
E
“quem esquece a história está condenado a repeti-la”. Disse não me lembro quem.
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