segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



04 de fevereiro de 2013 | N° 17333
PAULO SANT’ANA

O grilo e a abelha

Tenho ressaltado nos últimos dias a importância da fatalidade ao redor dos fatos humanos.

Notem bem o caso da jovem Mariana Lucher, com 23 anos, que sábado passado dirigia seu carro pela estrada, em Rosário do Sul, quando o veículo saiu da pista e foi se chocar contra um barranco.

Ocorre que havia uma colmeia de abelhas no barranco, que foi atingida pelo carro.

Não sei se a jovem estava dentro do carro ou foi despejada dele pelo choque quando as abelhas a atacaram.

O que todos ficamos sabendo é que a jovem foi então picada por cerca de 500 abelhas, e veio a falecer não pela consequência direta do acidente, mas por uma subjetiva: o veneno das centenas de picadas de abelhas circulou pelo seu sangue e ela veio a ter com certeza uma parada cardíaca.

Vejam a fatalidade como tece sua rede trágica: se a moça estava dentro do carro quando foi atacada pelo enxame, então é porque viajava com os vidros do veículo abertos.

Se viajava com os vidros fechados, a fatalidade a jogaria para fora do carro.

Mas continua a agir a fatalidade: por que o carro foi se chocar exatamente com a colmeia de abelhas? Não podia ter-se chocado meio metro adiante ou antes?

Eu já fui picado por uma só abelha, o que deve já ter acontecido com todos os meus leitores. Houve vezes em que fui picado por uma só abelha e doeu muito a picada.

Imaginem então a dor de 500 picadas de abelhas?

O que nunca consegui entender é como a abelha, este inseto bíblico que fabricou mel para Jesus sustentar-se em seus retiros no deserto da Galileia, além de mel em seu corpo contenha um ferrão venenoso?

O mel é o alimento mais doce da Terra. Como pode a abelha portar mel e veneno, duas substâncias antípodas?

Outra dúvida intrigante que tenho: a natureza dotou a abelha de ferrão venenoso somente para defender-se dos ataques dos homens e dos outros animais ou a abelha também usa esse ferrão para atacar outras abelhas?

Na hipótese, por exemplo, de uma cobra atacar uma colmeia e engolir várias abelhas vivas, uma vez no interior do aparelho digestivo da serpente, as abelhas não desferem na cobra os seus ferrões? E que danos eles podem causar no organismo da cobra?

Ou já por conhecerem que poderão ser atacadas pelas abelhas as cobras evitam de atacá-las?

O que sei é que tanto cobras quanto abelhas podem ter picadas venenosas.

São conjecturas que teço sempre que leio que uma pessoa morreu picada por abelhas.

Não sei se por causa da simpatia que exala do mel, o fato é que gosto muito de abelhas.

O louro fulvo das abelhas encanta os meus olhos.

E não me sai nunca da cabeça o que aconteceu há mais de 30 anos no Hospital de Pronto Socorro: um paciente relatou ao médico que um grilo entrou para dentro de seu ouvido.

E que a seguir, na perseguição do grilo, entrou também no ouvido do paciente uma abelha.

A zoeira que o grilo e a abelha fizeram dentro do ouvido do paciente só acabou quando o médico otorrino aspirou os dois insetos do ouvido.

E dizem que os dois insetos sobreviveram à aspiração.

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