Ipanema, inverno de 2012
Pois
é, na famosa praia de Ipanema, do Rio de Janeiro, nesse inverno que caiu no dia
19 de julho, não caminham mais as musas dos anos dourados, Vinicius de Moraes,
Tom Jobim, Baden Powell, Johnny Alf e tantos outros craques, mas a bossa
continua. No bar Vinícius, na Prudente de Moraes com a Vinícius, em algumas
noites por semana, a Maria Creusa não deixa a bossa morrer e baixa o poeta e o
Baden, principalmente, com a maior categoria.
Claro
que não falta nunca sua signature song, Você abusou, que todo mundo canta junto.
No restaurante Plataforma, no coração do Leblon, o Bar do Tom segue impávido,
com as notas e palavras do maestro, que tanto gostava de passear nas alamedas e
aleias do Jardim Botânico, onde está o espaço Tom Jobim, simples, requintado e
elegante como o Tom. Os tempos são outros. A “música” eletrônica, o funk e
outras paradas e baladas tomaram conta, mas o antigo charme, graças a Deus, se
mantém.
Deus
se mantém, entre outros lugares, na Igreja Nossa Senhora da Paz, que, em alguns
dias, tem sete ou nove missas e cujos sinos seguem tocando e mostrando que o
tempo não para. Na Praça Nossa Senhora da Paz, em frente, o senador gaúcho José
Gomes Pinheiro Machado mostra seu bronze e seu recado imortal para a nação.
Na
esquina da Visconde com a Joana Angélica, a velha padaria e os novos pãezinhos,
empadas, docinhos, e bebês dão toques de aldeia para o bairro, que, claro, tem
até alguns pedintes - é para a gente não
deixar de exercer a caridade e sentir que ainda é humano.
Copacabana
segue histórica, malandra e novidadeira, o Leblon é aquela coisa mais
tranquila, interiorana e família, e a Barra é nossa mágica Miami, mas a República
Livre de Ipanema segue uma espécie de síntese do Brasil, segue como um de seus
tambores mais sonoros e como um dos corações mais representativos e pulsantes
de um País que vai se tornando nação, aos poucos, que o parto do Brasil é lento,
como dizia o poeta João Cabral.
Acho
até que já foi mais lento. Tem muita coisa aí rápida e barulhenta demais. Tomara
que o ritmo e a ginga da bossa nova não desapareçam. Não vão. Mesmo que mil
bailes funk aconteçam e milhões de DJs tomem conta dos espaços e das pistas,
tenho certeza de que a nossa bossa vai continuar a ser uma de nossas melhores
criações e um de nossos maiores orgulhos.
Tipo
assim, o jazz, uma das melhores coisas dos EUA, que influenciou a bossa e
depois disso vem recebendo a poderosa influência dela. Música, linguagem
universal, quase sempre coisa do bem, oferecendo um pouco de ordem, de balanço
e de paz para pessoas e o planeta, que tantas vezes parecem estar fora da
casinha.
Jaime Cimenti
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