sexta-feira, 3 de agosto de 2012



Ipanema, inverno de 2012

Pois é, na famosa praia de Ipanema, do Rio de Janeiro, nesse inverno que caiu no dia 19 de julho, não caminham mais as musas dos anos dourados, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Baden Powell, Johnny Alf e tantos outros craques, mas a bossa continua. No bar Vinícius, na Prudente de Moraes com a Vinícius, em algumas noites por semana, a Maria Creusa não deixa a bossa morrer e baixa o poeta e o Baden, principalmente, com a maior categoria.

Claro que não falta nunca sua signature song, Você abusou, que todo mundo canta junto. No restaurante Plataforma, no coração do Leblon, o Bar do Tom segue impávido, com as notas e palavras do maestro, que tanto gostava de passear nas alamedas e aleias do Jardim Botânico, onde está o espaço Tom Jobim, simples, requintado e elegante como o Tom. Os tempos são outros. A “música” eletrônica, o funk e outras paradas e baladas tomaram conta, mas o antigo charme, graças a Deus, se mantém.

Deus se mantém, entre outros lugares, na Igreja Nossa Senhora da Paz, que, em alguns dias, tem sete ou nove missas e cujos sinos seguem tocando e mostrando que o tempo não para. Na Praça Nossa Senhora da Paz, em frente, o senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado mostra seu bronze e seu recado imortal para a nação.

Na esquina da Visconde com a Joana Angélica, a velha padaria e os novos pãezinhos, empadas, docinhos, e bebês dão toques de aldeia para o bairro, que, claro, tem até  alguns pedintes - é para a gente não deixar de exercer a caridade e sentir que ainda é humano.

Copacabana segue histórica, malandra e novidadeira, o Leblon é aquela coisa mais tranquila, interiorana e família, e a Barra é nossa mágica Miami, mas a República Livre de Ipanema segue uma espécie de síntese do Brasil, segue como um de seus tambores mais sonoros e como um dos corações mais representativos e pulsantes de um País que vai se tornando nação, aos poucos, que o parto do Brasil é lento, como dizia o poeta João Cabral.

Acho até que já foi mais lento. Tem muita coisa aí rápida e barulhenta demais. Tomara que o ritmo e a ginga da bossa nova não desapareçam. Não vão. Mesmo que mil bailes funk aconteçam e milhões de DJs tomem conta dos espaços e das pistas, tenho certeza de que a nossa bossa vai continuar a ser uma de nossas melhores criações e um de nossos maiores orgulhos.

Tipo assim, o jazz, uma das melhores coisas dos EUA, que influenciou a bossa e depois disso vem recebendo a poderosa influência dela. Música, linguagem universal, quase sempre coisa do bem, oferecendo um pouco de ordem, de balanço e de paz para pessoas e o planeta, que tantas vezes parecem estar fora da casinha. 
Jaime  Cimenti

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