ELIANE
CANTANHÊDE
No lucro
BRASÍLIA
- O procurador-geral Roberto Gurgel contou uma história com começo, meio e fim,
mas recorrendo mais a relatos de testemunhas e menos a provas documentais. Esse
vai ser o centro do julgamento.
Na
profusão de nomes, valores, datas e fatos, algo aparentemente periférico se
destaca: uma conta aritmética. Marcos Valério, o pivô, foi oito vezes ao Banco
Central defender interesses do Banco Rural, que "emprestou" R$ 32
milhões para o esquema e foi brindado depois com R$ 1 bilhão na liquidação do
Banco Mercantil de Pernambuco. Negócio da China!
Gurgel
explicou em bom e claro português, citando trechos de depoimentos e as páginas
em que podem ser encontrados: os empréstimos eram "falsos, fictícios",
apenas para encobrir "doações em troca de favores" acertados depois "entre
quatro paredes da Presidência".
Ou
seja, para que o dinheiro sujo circulasse entre o público e o privado, saísse
do Banco do Brasil e de órgãos públicos para caixas de partidos e bolsos de políticos
aliados ao Planalto de Lula e Dirceu.
Em
resumo, o Banco Rural e o BMG simulavam empréstimos para encobrir a roubalheira
e, em troca, ganhavam vantagens altamente compensadoras do governo Lula.
Segundo
Gurgel, as notas eram envoltas em faixas com os logotipos do BB ou dos bancos
privados e as quantias eram tão grandes que circulavam em caixas-fortes!
Na
sua fala, de cinco horas, ele apontou José Dirceu como o "autor
intelectual" do esquema e Delúbio Soares e Marcos Valério como "elos"
entre o núcleo político e os núcleos operacional e financeiro.
Mas
isso já foi amplamente dito, escrito, comentado. O que se quer saber é se, além
da eventual pena dos culpados, essas quantias milionárias serão devolvidas aos
cofres públicos.
Senão,
mesmo com condenações, os envolvidos continuarão no lucro e ficará comprovado: o
crime realmente compensa.
elianec@uol.com.br
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