ANTONIO
PRATA
Esporte de verdade
Digam
quanto vocês conseguem levantar, vão lá e levantem. Pronto, acabou
Neste
domingo, todos os olhos do mundo estarão voltados para o velocista Usain Bolt,
na disputa dos 100 m rasos. Bolt é, sem dúvida, a grande estrela destes Jogos;
a imagem que os fotógrafos esperam captar, que os patrocinadores investiram
para ter, que o público anseia por aplaudir é a do jamaicano comemorando a vitória,
lançando sua flecha invisível pelos céus da Grã-Bretanha.
Bobagem.
Após uma semana e meia em Londres, indo do arco e flecha ao handebol,
acompanhando da esgrima ao badminton, posso afirmar com segurança que a mais
nobre das modalidades não é a corrida, não é a natação, não é o hipismo,
tampouco o futebol: o apogeu do esporte é o levantamento de peso.
É ali,
meus caros, que o atleta chega mais perto de sua essência. É o homem e a barra.
A carne e o chumbo. A força de seus músculos contra a força da gravidade. É,
basicamente, nós contra Deus -e sem chance de trapaça.
Caiaques?
Rifles? Discos? Petecas? Dardos? Bolas? Tergiversação. Ora, querem testar os
limites do corpo? Digam quanto vocês conseguem levantar, vão lá e levantem. Pronto,
acabou. Como descreveu meu amigo Matthew Shirts, historiador, brasilianista e
profundo conhecedor da modalidade em questão, "É um esporte tão puro, tão
grego, que beira o lirismo". Eu não poderia dizer melhor.
Só num
mundo decadente e esquálido, em que a virilidade escorreu pelo ralo, correr rápido
pode ser uma virtude. O que é um velocista senão o mais bem acabado filho da
estirpe dos fujões? Seus genes foram selecionados, geração após geração,
escapando de predadores, de inimigos, de credores, das tamancas da mamãe. Herói
não é quem corre, é quem encara.
Grandes
não são Phelps, que foge na água, nem Bolt, que foge na terra, são Kim Un Guk,
Lin Qingfeng, Lu Xiaojun, Adrian Zielinski, que vi vencerem nas categorias até 62
kg, 69 kg, 77 kg e 85 kg de levantamento de peso, nos últimos dias. Imenso é Om
Yun Chol, o pequeno Hércules norte-coreano, um homúnculo mais talhado para jóquei
do que para halterofilista e que, com 1,52 m e 55 kg, conseguiu o feito raríssimo
de erguer mais que três vezes o próprio peso, 168 kg, levando ouro na categoria
até 56 kg.
É bem
provável que Bolt vença hoje. É bem provável que em dezembro, na retrospectiva
do "Fantástico", a imagem escolhida para resumir Londres-2012 seja a
do jamaicano, comemorando.
Mas
na minha retrospectiva particular, dia 31 de dezembro e pelo resto da vida,
quando me lembrar desses jogos, será a careta do pequeno Om Yun Chol que virá à
mente, colocando aqueles 168 kg acima de sua cabeça, a um metro e meio do chão.
Esporte é isso aí, meu amigo, o resto é perfumaria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário