12 de agosto de 2012 | N° 17159QUASE PERFEITO |
Fabrício Carpinejar e Cínthya Verri
Amizade
colorida funciona?
“Querido casal! Tenho uma amizade colorida há três anos. Até
que ponto é saudável isto? Há regras? Somos muito amigos, ele me conta
relacionamentos, eu me fecho. Ele pergunta: ‘Já imaginou se nos apaixonarmos?’.
E eu: ‘Deixa rolar, estamos sujeitos a isso!’ Um beijo. Alice”
Querida Alice,
A amizade é o ferrolho da adolescência, onde nos protegemos
das frustrações. Vocês estão brincando de pega-pega. Quando ele vai lhe
alcançar, finge que não quer e se salva por mais um tempo. Mas o que mais
deseja é perder a brincadeira para ganhá-lo. Desistir de competir para estar
junto.
O medo de arruinar a convivência é uma desculpa furada.
Sempre pensamos que podemos fazer a pessoa mais feliz do que é. No fundo, somos
confiantes, somos orgulhosos, somos os melhores.
Vem deixando de falar o que sente por receio de levar um
fora. Não é por generosidade ou para salvar o passado ou pelo bem dos dois. A
covardia tem o costume de se esconder na timidez.
São três anos de hesitações e incertezas. É muito sofrimento
à toa, tortura emocional, pequenos testes e provas.
Vocês estão por um fiozinho, a corda mais do que esticada,
um olhando a boca do outro pelas três palavras redentoras. Na paixão, não
existe fiado. Tem que falar na hora senão o sentimento muda e vira
ressentimento.
Não transfira a responsabilidade, não sofra ouvindo
casinhos, bancando a forte e inflexível, esclarecida e disponível, mas morrendo
de ciúme em segredo. Esgote as possibilidades antes de se conformar. Ninguém é
mais forte do que o amor. A fraqueza é sincera e sábia.
Se ele diz:
– Não quero estragar nossa amizade.
Responda com convicção:
– Eu quero estragar nossa amizade.
A réplica será um beijo. E sua tréplica será um novo beijo.
Declare-se, agora.
Abraço com toda ternura,
Fabrício Carpinejar
Querida Alice,
Era uma vez, a primeira noite da lua-de-mel:
– Querido, vá fechar a porta que dá para a rua. Ficou
aberta.
– Fechar a porta? Eu? O noivo? Deve estar louca. Vá fechá-la
você mesma.
– Ah, é? – gritou a noiva – Pensa que sou sua escrava? Não
acredito!
Decidiram: o primeiro que falasse faria a tarefa.
Sentaram-se em silêncio.
Ladrões aproveitaram a entrada destravada e recolheram tudo
o que puderam. O casal testemunhava mudo.
Pela manhã, dois policiais investigaram a estranha casa
desprotegida. Diante do silêncio abusivo, cada vez mais irritados, um deles
disse ao parceiro:
– Dê um tapa neste homem para que recupere a razão.
Então a mulher explodiu:
– Por favor, não batam nele!
– Ganhei! – gritou imediatamente o marido. – Você vai fechar
a porta!
Alice, é bonito que esteja questionando. Conversar já mostra
que não tem vocação para o sofrimento. Quando pergunta se há regras, pressente
que alguma coisa não anda generosa entre os dois. É questão de equidade:
aplicar cada norma a cada caso. Ele fala de outras mulheres, você guarda a
quietude. Por quê? Não está apenas esperando por ele secretamente? Fingindo
modernidade?
Amizades coloridas existem, são possíveis com respeito e
honestidade, cumplicidade e bom humor. Talvez seja o caso. O ponto saudável é
não haver sacrifícios; coragem de se entregar sem morrer para si. Saúde é ter a
autonomia para depender. Não é vergonha assumir que seu amor mantém a janela aberta.
Beijos meus,
Cínthya Verri
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