sábado, 11 de agosto de 2012



12 de agosto de 2012 | N° 17159QUASE PERFEITO |
Fabrício Carpinejar e Cínthya Verri

Amizade colorida funciona?

“Querido casal! Tenho uma amizade colorida há três anos. Até que ponto é saudável isto? Há regras? Somos muito amigos, ele me conta relacionamentos, eu me fecho. Ele pergunta: ‘Já imaginou se nos apaixonarmos?’. E eu: ‘Deixa rolar, estamos sujeitos a isso!’ Um beijo. Alice”

Querida Alice,

A amizade é o ferrolho da adolescência, onde nos protegemos das frustrações. Vocês estão brincando de pega-pega. Quando ele vai lhe alcançar, finge que não quer e se salva por mais um tempo. Mas o que mais deseja é perder a brincadeira para ganhá-lo. Desistir de competir para estar junto.

O medo de arruinar a convivência é uma desculpa furada. Sempre pensamos que podemos fazer a pessoa mais feliz do que é. No fundo, somos confiantes, somos orgulhosos, somos os melhores.

Vem deixando de falar o que sente por receio de levar um fora. Não é por generosidade ou para salvar o passado ou pelo bem dos dois. A covardia tem o costume de se esconder na timidez.

São três anos de hesitações e incertezas. É muito sofrimento à toa, tortura emocional, pequenos testes e provas.

Vocês estão por um fiozinho, a corda mais do que esticada, um olhando a boca do outro pelas três palavras redentoras. Na paixão, não existe fiado. Tem que falar na hora senão o sentimento muda e vira ressentimento.

Não transfira a responsabilidade, não sofra ouvindo casinhos, bancando a forte e inflexível, esclarecida e disponível, mas morrendo de ciúme em segredo. Esgote as possibilidades antes de se conformar. Ninguém é mais forte do que o amor. A fraqueza é sincera e sábia.

Se ele diz:

– Não quero estragar nossa amizade.

Responda com convicção:

– Eu quero estragar nossa amizade.

A réplica será um beijo. E sua tréplica será um novo beijo.

Declare-se, agora.

Abraço com toda ternura,

Fabrício Carpinejar

Querida Alice,

Era uma vez, a primeira noite da lua-de-mel:

– Querido, vá fechar a porta que dá para a rua. Ficou aberta.

– Fechar a porta? Eu? O noivo? Deve estar louca. Vá fechá-la você mesma.

– Ah, é? – gritou a noiva – Pensa que sou sua escrava? Não acredito!

Decidiram: o primeiro que falasse faria a tarefa. Sentaram-se em silêncio.

Ladrões aproveitaram a entrada destravada e recolheram tudo o que puderam. O casal testemunhava mudo.

Pela manhã, dois policiais investigaram a estranha casa desprotegida. Diante do silêncio abusivo, cada vez mais irritados, um deles disse ao parceiro:

– Dê um tapa neste homem para que recupere a razão.

Então a mulher explodiu:

– Por favor, não batam nele!

– Ganhei! – gritou imediatamente o marido. – Você vai fechar a porta!

Alice, é bonito que esteja questionando. Conversar já mostra que não tem vocação para o sofrimento. Quando pergunta se há regras, pressente que alguma coisa não anda generosa entre os dois. É questão de equidade: aplicar cada norma a cada caso. Ele fala de outras mulheres, você guarda a quietude. Por quê? Não está apenas esperando por ele secretamente? Fingindo modernidade?

Amizades coloridas existem, são possíveis com respeito e honestidade, cumplicidade e bom humor. Talvez seja o caso. O ponto saudável é não haver sacrifícios; coragem de se entregar sem morrer para si. Saúde é ter a autonomia para depender. Não é vergonha assumir que seu amor mantém a janela aberta.

Beijos meus,

Cínthya Verri

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