05
de agosto de 2012 | N° 17152
MARTHA
MEDEIROS
De onde surgem os amores
De
qualquer forma, para não perder o hábito, de vez em quando se produzia e ia pra
balada, vá que. Mas voltava invariavelmente sozinha para casa. Até que um ex-paquera
do tempo que ela era uma debutante fez contato ele, que morava no Exterior,
voltaria para o Brasil e queria revê-la. Milagre by Facebook.
Ela
disse claro, vai ser ótimo, mas não sabia quando exatamente a promessa
desembarcaria no Salgado Filho. Seguiu sua vida. Foi para a piscina do clube
num dia de semana e lá, estando acima do peso, suada e com um biquíni velho,
escutou seu nome sendo pronunciado por uma voz aveludada. Era o dito cujo,
testemunhando in loco no que a debutante havia se transformado depois de tantos
anos. Ela pensou: o cara vai sair correndo.
Ele
pensou: não desgrudo mais dessa mulher. E assim foi. Certa de que só estando
impecável atrairia olhares, ela conquistou um guapo num dia em que se sentia
pouco atraente.
Outra
história. Atriz, loira, olhos verdes, leva um fora do noivo. Passa dias inchada
de tanto chorar. Deprê em estágio avançado. A avó organiza um almoço do tipo
italiano, aberto ao público. Ela vai e encontra um velho conhecido com quem
brincava na infância. Ele, recém-separado. Ela, um trapo.
Ficam
ali conversando, ela aos lamentos por sua situação, quando, em meio a soluços,
a mulher se engasga. Mas engasga feio. De quase morrer. Uns 10 vieram esmurrar
suas costas, e a guria vertendo lágrimas sem conseguir respirar, roxa como uma
berinjela, já encomendando a alma. Ela me conta: naquele dia, eu havia saído de
casa medonha, e o engasgo só piorou o quadro, eu parecia o demo convulsionando.
Mas o amiguinho de infância não teve essa impressão. No dia seguinte, ligou
para saber se ela passava bem, e estão casados há 15 anos.
Mais
uma: depois de duas décadas de uma relação bem vivida, veio a separação amigável.
Porém, mesmo amigável, nunca é fácil sair de um casamento, ainda mais de um
casamento que não era um inferno, apenas havia acabado por excesso de amizade.
Ela
pensou: agora é a hora do luto, um recolhimento me fará bem. Não deu uma semana
e um estranho tocou o número do seu apartamento no porteiro eletrônico. Ela não
reconheceu a voz, o nome, não sabia quem era, e não deu trela. Ele tentou no
dia seguinte: ela tampouco abriu a porta, achou que o cara havia se enganado de
prédio. No terceiro dia, ela resolveu esclarecer pessoalmente o equívoco. Desceu
até a portaria para convencer o insistente de que ela não era quem ele
procurava. Era.
Do
que se conclui: de onde muito se espera – boates, festas, bares – é que não
surge nada. O amor prefere se
aproximar dos distraídos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário