sábado, 4 de agosto de 2012



05 de agosto de 2012 | N° 17152
VERISSIMO

Vista do mar

Não faltam no Rio de Janeiro belas paisagens e lugares para contemplá-las. Mas a vista que bate todas, a mãe de todas as vistas, é a vista para o mar. Apartamentos com vista para o mar são disputados, no Rio, por quem pode comprar ou alugá-los. Às vezes, só o que o apartamento tem é a vista para o mar que, claro, é destacada por quem o está vendendo ou alugando.

– Olha só que vistão.

– Uma beleza... Mas quantos quartos tem o apartamento?

– Quartos? – É. No anuncio só dizia “vista para o mar” e mais nada.

– Tem um quarto. Mas olha que vista.

– Onde fica?– A vista?

– O quarto. – Você está nele.

– Mas aqui não é a sala?

– É a sala e o quarto. Mas olha que vista.

– Não tem cozinha?– A cozinha é junto com o banheiro.

– Cozinha e banheiro, juntos?!

– Mas olha que vista!

Depois da quarta queda, com morte, da mesma janela, a polícia não está mais perto de esclarecer o mistério. Quatro quedas da mesma janela, num curto espaço de tempo? Suicídio não pode ser. Quatro pessoas se atirando pela mesma janela, sem deixar bilhete, uma atrás da outra? Improvável. Impossível.

O primeiro a ser interrogado é o dono do apartamento, e a primeira suspeita a seu respeito é: orgias. Festas loucas, com muito álcool, muita droga, muito sexo, culminando com alguém sendo jogado pela janela. Ou então, outra tese: ritos de magia negra, com os possuídos pelo demônio mergulhando para a morte pela janela, entre gritos selvagens dos demais..

– Vamos, confesse. O que acontecia no seu apartamento? Como eram os rituais macabros?

– Eu não sei de nada. O apartamento está à venda. Eu nunca vou lá. Só quem vai é um corretor, para mostrar aos possíveis compradores.

O corretor não resiste ao interrogatório e confessa. Estava, sim, no apartamento quando as pessoas caíram pela janela. Estavam todas esticando o pescoço para enxergar um pedaço da vista do mar prometida no anúncio. Mas o corretor não se sentia culpado.

– Eu dizia: não se debrucem! Não se debrucem!

Se havia um culpado das mortes era a vista para o mar. Que prendessem a vista para o mar.

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