sábado, 4 de agosto de 2012



04 de agosto de 2012 | N° 17151
PAULO SANT’ANA

Eu, bisavô

A menor distância entre dois pontos são os atalhos.

Prosseguem chegando à minha mesa incontáveis queixas de pessoas do Interior contra a penosa e longa demora ou a impossibilidade de consultas no SUS.

Às vezes, é melhor ficar sozinho. Recolher-se e meditar, rezar, calcular como será o futuro.

Eu já sei que meu futuro é estreito, meio que sem horizonte. Mesmo assim, me interesso por ele.

Com certeza, nada de grande impacto positivo estará me reservando o futuro.

Mas tenho grande curiosidade sobre se alguma coisa de impacto negativo estará me reservando o futuro.

Enquanto isso, muitas vezes penso que é melhor ficar sozinho por longos instantes. Se aparecer alguém para me tirar da solidão, com certeza será malvindo.

Eu ainda não aprendi direito a curtir a solidão, vicio-me em encontrar pessoas e conversar com elas, mesmo que a conversa não tenha profundidade.

Por isso, gosto de me encontrar com pessoas bem-humoradas. A companhia delas me faz passar o tempo com facilidade.

Como escrevi certa vez, a vida é a arte de deixar passar o tempo. Para isso, não é preciso muito esforço: a gente é obrigado a toda hora a esperar pelo elevador, a esperar que abra o banco, a esperar o salário no dia 5, a esperar que nasça o bebê e que morra alguém que pode nos deixar uma herança testamentária, a esperar o gol, a esperar na fila de espera, esperar o ônibus, o trem, o avião.

Já calcularam quanto anos de suas vidas foram gastos somente em espera?

Eu, por exemplo, esperei por longos 20 anos para quitar a minha casa própria, era no tempo do Banco Nacional de Habitação. Nunca fiz melhor negócio na minha vida, nos últimos anos da prestação esta não me custava quase nada. Mas foram longos 20 anos!

Esperei que me nascessem os filhos, depois os netos, seria presunção de minha parte que conseguisse viver até o nascimento de meu primeiro bisneto.

Se por acaso eu conseguir o meu primeiro bisneto, por intermédio de meus netos Gabriel e Pedro, que têm 20 e 16 anos respectivamente, então aí estará localizada a maior emoção da minha vida.

Avô qualquer um é, mas bisavô é façanha ciclópica.

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