sábado, 4 de agosto de 2012



04 de agosto de 2012 | N° 17151
NILSON SOUZA

Teoria da conspiração

Ufa, terminei de ler O Cemitério de Praga, de Umberto Eco. Confesso, humildemente, que entendi muito pouco. Foi duríssimo chegar até o fim. O italiano é culto demais para este simplório leitor. Eu já tinha apanhado feio de O Nome da Rosa, que só se tornou um pouco mais compreensível depois que vi também o filme.

Agora só não abandonei no meio da leitura porque sou um virginiano obstinado, para não dizer muito do teimoso. Já contei aqui que uma vez inventei de endireitar o meio-fio da calçada em frente à minha casa. A pedra, que estava levemente inclinada, era enorme. Passei o meu dia de folga inteiro cavando. No anoitecer, estava alinhadinha com as outras, mas ninguém jamais percebeu.

Bom, voltemos ao livro. Me perdi várias vezes na tentativa de acompanhar as peripécias do tal Simone Simonini, anti-herói da trama, exímio falsário, homem de muitas caras e de incontáveis delitos. Pelo pouco que consegui captar, o tema principal do livro é exatamente a falsificação da história, somada a uma espécie de culto ao ódio e ao preconceito contra raças e credos religiosos.

Padres, jesuítas, judeus, comunistas, maçons, franceses, italianos, alemães, russos – ninguém escapa da crítica ferina do autor, evidentemente manifestada pela língua venenosa de seus personagens. Todos são traiçoeiros, ladrões, assassinos, covardes. O livro, segundo soube, causou grande desconforto na Europa, mas vendeu como pão quente.

Lamento não conhecer um pouco melhor a história dos povos europeus, pois tenho certeza de que assim o romance faria mais sentido. Vários personagens são reais. Até o nosso conhecido Garibaldi desfila pelas páginas do livro, com certa dificuldade, pois sofria de artrite. Freud também está lá. Pena que não explique tanta confusão.

Na verdade, o único personagem inventado pelo autor seria Simonini, que também tem múltiplas identidades. E, para complicar ainda mais, o personagem fictício pratica ações verdadeiras.

Ao fechar o livro, me senti aliviado pela missão cumprida, mas também angustiado pela sensação de perda de tempo. O que ficou? – me perguntei como sempre faço ao final de uma leitura como essa.

Além do reconhecimento sincero da minha ignorância em relação ao que li e não entendi, ficou-me a impressão de que o autor passou o seguinte recado: não acredite em tudo que você lê. Tudo pode ser falsificado, dos Protocolos dos Sábios do Sião aos dossiês que nossos políticos produzem em escala industrial para destruir seus adversários.

Concluo pensando que nunca faltará leitor para uma boa teoria da conspiração. E dou a pedra como alinhada, ainda que ninguém mais perceba.

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