Danuza
Leão
Da série 'coisas que eu não
entendo'
Às
vésperas da Rio + 20, o governo baixa o preço dos carros para estimular as
vendas. Dá para entender?
Existem
muitas, e uma delas é quando ouço ou leio o comentário de um analista político
dizendo que alguma coisa aconteceu por "pressão da opinião pública".
Em grande parte das vezes isso tem a ver com o que eu penso, com o que acredito
ser o mais certo; mas a mim ninguém perguntou nada, e não me consta que alguma
pesquisa tenha sido feita para saber se a opinião pública está pressionando
para um lado ou para o outro.
No
assunto mensalão, por exemplo: o julgamento tem -enfim- dia marcado para
começar, mas existem, sabidamente, duas "pressões da opinião
pública". A dos que querem e exigem que isso aconteça, pois não é possível
um caso tão escandaloso esperar sete anos para ser julgado, e a dos petistas,
que gostariam que levasse mais 30 anos e que tudo acabasse no esquecimento.
E um
pequeno comentário: como os ministros do STF adoram criar um suspense. O lento
ministro Ricardo Lewandowski é um deles, e agora vamos esperar até não sei
quando para que o ministro José
Toffoli
decida se vai se declarar suspeito ou não, no mesmo julgamento; afinal, ele já
deve estar farto de saber se é. Penso que faz parte, para mostrar à população o
quanto são poderosos.
Outra
coisa curiosa: sabe-se que em quase todos os países do planeta há uma tendência
a que as pessoas passem a usar mais o transporte público ou a estimular o
transporte solidário para desafogar o trânsito, caótico nas grandes cidades.
São Paulo inovou com o rodízio, e, segundo li, está pensando em fechar algumas
ruas, a exemplo de Londres e Curitiba, para que algumas áreas sejam usadas
apenas por pedestres.
Pois
às vésperas da Rio + 20 o governo baixa o preço dos carros para estimular as
vendas, e as montadoras desovam milhares de carros dos seus pátios, o que vai
infernizar ainda mais o trânsito das cidades (e os novos compradores serão,
talvez, os próximos inadimplentes). Dá para entender?
Mais
uma: é proibido o uso de celulares a quem está dirigindo, o que está certo.
Quem está no volante falando ao telefone, seja no viva voz, seja naquela
posição mais do que incômoda, equilibrando o celular entre o ouvido e o ombro,
perde alguns reflexos, por isso, palmas para a decisão de multar e tirar pontos
da carteira de quem não consegue esperar chegar a seu destino para se comunicar
com o mundo.
Mas
já me aconteceu, várias vezes, de tomar um táxi e ver, bem pertinho do rosto do
motorista, uma minitelevisão ligada, muitas vezes na novela. Ora, a TV é
diabólica; se ela está ligada, seja em nossa própria casa, seja na sala de
espera de um médico ou dentista -o que, aliás, deveria ser proibido- é
inevitável que se olhe para ela.
Agora
imagine um motorista de táxi, que passa dez horas dirigindo, e que,
teoricamente, não tem com quem falar -teoricamente, porque todos falam, ou com
o passageiro ou ao celular- com uma TV ligada bem na sua frente. É simples: não
dá.
Mas
ainda não ouvi falar que exista lei proibindo a existência dessas televisões
nos carros, ou proibindo sua fabricação, o que seria bem prático; se não
existissem TVs feitas especialmente para carros, ninguém poderia comprar, e nem
seria preciso lei alguma para punir os motoristas irresponsáveis.
Essas
são apenas três das muitas coisas que não entendo.
danuza.leao@uol.com.br
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