10
de junho de 2012 | N° 17096
VERISSIMO
Natureza viva
Breno
resistiu um pouco quando a professora Matilde o convidou para ser modelo na sua
escola de arte.
– Sei
não...
– Você
só precisa posar para as moças.
Eram
só moças na aula de desenho da professora Matilde.
– Mas...
posar nu?
– Claro
que nu.
– Sei
não...
Breno
tinha um corpo atlético, bem estruturado. Um corpo clássico. Até então as
alunas da professora Matilde só tinham desenhado vasos, caixas, frutas. Natureza-morta.
Estava na hora de começarem a desenhar o corpo humano. Para terem uma noção de
proporção e anatomia, que a natureza morta não podia dar.
Breno
topou. Afinal era só tirar a roupa, fazer uma pose, ficar parado e depois ser
pago. Não havia mal nenhum. Era arte.
– Faça
qualquer pose, Breno – instruiu a professora Matilde. – Uma que seja confortável
para você.
Breno
subiu no estrado que fazia as vezes de um pedestal e, sem querer, fez uma pose
parecida com a do Davi do Michelangelo.
– Perfeito
– disse a professora Matilde. – Meninas, comecem a desenhar.
Durante
alguns minutos, tudo correu bem. Mas aí aconteceu uma coisa que nunca aconteceu
com o Davi de Michelangelo. Breno começou a ter uma ereção. A princípio apenas
um movimento, quase imperceptível. Em seguida, uma ereção completa,
decididamente perceptível.
– Ai
meu Deus – disse uma das moças.
Outras
riram. Todas pararam de desenhar. O modelo estava se mexendo. Ou uma parte do
modelo estava se mexendo. Era mais anatomia do que elas precisavam.
– Breno
– disse a professora Matilde. – Assim não vai dar.
– Desculpe
– disse Breno. – Eu não consigo controlar. Eu...
– Pense
em alguma coisa desestimulante.
– Em
quê?
– Qualquer
coisa.
A
professora Matilde sugeriu que Breno pensasse em água fria. Um choque de água
fria. Ou pensasse na sua mãe. O que ela diria daquilo? Mas a ereção não
diminuiu.
– Pense
em alguma coisa horrível – ordenou a professora Matilde. – A fome na África.
– A
situação no Oriente Médio – lembrou uma das moças.
– A
crise da dívida na Europa – lembrou outra moça.
– Isso
– disse uma terceira. – Pense na Angela Merkel!
A
ereção não diminuía. E as sugestões do grupo se multiplicavam. Iam do grotesco (
“Imagine que ele ficou preso num moedor de carne!” ) ao filosófico (“Pense na
finitude humana!”).
Quem
entrasse na sala naquela hora não entenderia a cena. Um homem nu, visivelmente
constrangido, cercado por mulheres que gritavam.
– Pense
em injeção!
– Um
fora da namorada!
– Um
meteoro se chocando com a Terra!
– O
Bashar al-Assad!
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