Jaime Cimenti
Alguém via a ficção brasileira por
aí?
De uns anos para cá, e já são
muitos, pelo que me lembro, as listas de livros mais vendidos da revista Veja e
de outras publicações praticamente não trazem obras de ficção e poesia de
autores brasileiros. Mesmo Paulo Coelho não tem aparecido muito nas listas.
Em algumas semanas deste ano, com
certa surpresa, Toda poesia, de Paulo Leminski, figurou como best-seller na
lista da Veja. Nesta semana já não está lá. Livros de crônicas, História e
biografias envolvendo autores e temas nacionais aparecem com mais frequência
nas listas. O poeta, professor e crítico Décio Pignatari certa vez disse que,
no Brasil, a crônica tinha matado o romance. A frase faz pensar.
Muitos de nossos grandes
romancistas faleceram, e os vivos não estão nas listas. Novelas e coletâneas de
contos de brasileiros, tanto quanto se sabe, não têm causado o impacto desejado
no público e nas vendas. Literatura infantil e infantojuvenil e romances
históricos ou espíritas seguem com grandes tiragens. A questão da ficção e da
poesia fica no ar. Poesia nunca vendeu muito. Livros de contos também não.
Mas onde estão os romancistas e
os romances brasileiros? É certo que as editoras muitas vezes preferem apostar
em títulos que já vêm do exterior com sucesso, adaptações para cinema, teatro e
tal, já que vivemos num mundo globalizado. É certo que os leitores têm
liberdade para escolher o que pretendem levar para casa, mas penso que é
preciso examinar melhor a questão, que envolve aspectos culturais, econômicos,
sociais e políticos.
Por que será que a maioria de
nossos leitores está preferindo ficções sobre personagens, cenários e histórias
de outros países, alguns mesmo do Oriente? Por que a história da menina da
Índia chama mais a atenção do que a história da jovem do Rio de Janeiro? Nada
contra as histórias e o talento dos estrangeiros, mas torço para que a gente
volte a ter romances, personagens e cenários nossos. Fico desejando que os
leitores brasileiros leiam mais sobre nossos habitantes e nosso país.
Fico desejando que nossos
ficcionistas, editores e livreiros encontrem os caminhos para que nossos
romances voltem às listas de mais vendidos. A globalização está aí, é
inevitável, mas não podemos deixar nosso samba morrer. Não podemos deixar
nossas identidades culturais de lado. Não devemos deixar de pintar e contar a
história de nossa aldeia. Só assim seremos universais, como disse Tolstoi.
Jaime Cimenti
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