02 de agosto de 2013 |
N° 17510
DAVID COIMBRA
Três frases do Papa
Recortei três frases do Papa de
sua histórica e lúcida entrevista à Rede Globo, dias atrás. A primeira:
“Uma árvore que cai faz mais
barulho do que um bosque crescendo”.
Uma bela imagem sobre a maioria
silenciosa, que não se manifesta, mas decide.
A segunda foi algo que ele
repetiu algumas vezes:
“Vivemos num tempo de feroz
idolatria do dinheiro”.
E a terceira não foi exatamente
uma frase, mas sua reiterada preocupação com o que chamou de “os extremos da
sociedade”: as crianças e os velhos.
Muita sabedoria social demonstrou
o Papa. Essas três observações aplicam-se com perfeição ao momento vivido pelo
Brasil. Grita, por exemplo, a questão das crianças. O Brasil maltrata as suas
crianças. A educação básica é ruim e se torna pior a cada dia.
Eu só estudei em escola pública,
havia maravilhosas escolas públicas no Rio Grande do Sul. De 30 anos para cá,
tudo se deteriorou: a qualidade das escolas, dos professores e dos alunos. Por
um motivo óbvio: inversão de prioridades.
No que o Estado investiu? Numa universidade
regional. Qual é o grande debate no campo da educação no Brasil? O sistema de
cotas nas universidades ou, nos últimos tempos, se o Ensino Médio deve ou não
ser profissionalizante. Enquanto isso, um dos extremos, as crianças, o ensino
básico, está no abandono.
Com um ensino básico forte, o
sistema de cotas é dispensável. A injustiça seria corrigida de baixo para cima,
estruturalmente, e não de cima para baixo, artificialmente.
Mas investir no ensino básico é
mais demorado, mais dispendioso e mais trabalhoso. Os índices positivos demoram
a aparecer quando o investimento é no ensino básico, e um governante se reelege
montado em índices.
Os índices, os índices... Há
poucos dias, saíram os índices de desenvolvimento humano. Todos melhoraram.
Mesmo no Rio Grande do Sul, que só piora, o IDH melhorou.
Isso, claro, é uma ilusão. O IDH
melhorou em todo o mundo, até na África melhorou, porque o mundo inteiro
avançou economicamente nos últimos 25 anos. E avançou por vários motivos, mas
sobretudo desde que Deng Xiaoping decretou que “enriquecer é glorioso” e a
China abriu-se para o capitalismo e começou a comprar e a vender para todo o
planeta.
Enriquecer pode ser glorioso para
alguns; não é para todos. O Brasil enriqueceu, tem dinheiro sobrando, o BNDES é
uma mãe pródiga capaz de liberar R$ 10 bilhões para Eike Batista, o empresário
amigo do governo, mas as pessoas continuam vivendo mal. Os índices mostram uma
coisa e as pessoas sentem outra. Como pode isso, se enriquecer é glorioso? O
Papa deu a resposta: trata-se da feroz idolatria do dinheiro.
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