06
de agosto de 2012 | N° 17153
KLEDIR
RAMIL
Diário de bordo – viagem ao espaço
O
pessoal do Fantástico que veio me entrevistar não gostou do meu depoimento. Claro,
meu amigo maluco do pandeiro havia contado uma história muito mais interessante
para o horário nobre, que, além da passagem pelo Triângulo das Bermudas,
descrevia abdução por seres alienígenas.
O
que eu disse ao rapaz que me entrevistou é que não sei o que aconteceu. “Acredito
que tenha sido um sonho. Estávamos há dias em alto-mar, sem água, muito sol na
moleira...”. Foi só o que declarei.
Pra
vocês, conto o que aconteceu de verdade. Acordei com a voz do meu companheiro: “Aeee...
Acho que o sol tá chegando perto da gente”. Como era noite, pensei que o fulano
tinha desagregado. Abri o olho e vi uma luz muito forte sobre nós, um clarão,
um enorme cone vertical que nos sugou com lancha e tudo pra dentro de um disco
voador.
Era
um pessoal simpático. Nos ofereceram um jantar, com pílulas, comprimidos e uma
bebida azul fluorescente, que soltava fumaça. Preferi aceitar um copo d’água e
abri conversa agradecendo a hospitalidade. Fomos informados que estávamos ali
fazendo parte de um estudo antropológico: ficaram curiosos com o fato de que
todos vivem amontoados em cidades, em terra firme, e aqueles dois estavam
sozinhos, em alto mar. E pelos sorrisos, deu pra perceber que insinuavam que éramos
um casal.
Ao
final do jantar, perguntaram se estaríamos dispostos a uma experiência sexual
intergaláctica. Apesar do caráter científico do experimento, respondi que sou
casado e que não me sentia à vontade para participar. Meu companheiro, que, pra
variar, havia abusado da bebida servida, colocou-se à disposição. “Aeee, tô na área”.
E
comentou comigo: “Cara, é um bando de mocreias, mas já tô a perigo mesmo”. Foi
aí que caiu a ficha. “Vem cá, como é que eu vou saber quem são as garotas e
quem são os rapazes...?”.
Não
sei o que aconteceu dentro daquele quarto, mas não foi bacana. Zé Mané saiu
transtornado, chutando a porta. Enfiou o dedo na cara de um ET e gritou: “Quero
voltar pra casa, agora! Se não, vou chamar o pessoal da Nasa”. E sentou na
nossa velha lancha, com as mãos na cintura.
Acompanhei
o movimento e sentei quietinho no meu banco. Tomei coragem e pedi que, se possível,
gostaria de ser deixado em casa, CEP número tal, mas os caras não estavam pra
conversa. Fomos largados no meio do mar.
Que
maldade. Tem gente que não tem educação mesmo.
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