10
de maio de 2012 | N° 17065
LETICIA
WIERZCHOWSKI
Mãe é mãe
Estava
numa loja de roupas infantis dia desses e, na fila do caixa, duas mulheres
conversavam. A loira disse para a morena: “Com a chegada do frio, não tenho
dormido bem”. A morena estranhou (quem não gosta de dormir no inverno?) e perguntou
para a amiga o motivo do seu mau sono. “É que levanto várias vezes por noite
para cobrir as minhas filhas. Elas vivem se descobrindo durante a
madrugada...”.
Fiquei
ali, quieta no meu canto, mas não segurei um sorriso. Eu também, no frio da
noite gaúcha, saio da cama várias vezes por noite. Não tem split que me segure
sob as cobertas sem dar uma espiada nos meus meninos. Amor de mãe é isto:
levantar durante a noite para conferir se o sono do filho vai bem.
Está
tudo na santa paz de Deus, a casa paira no silêncio da madrugada – mas a mãe
não deixa escapar a possibilidade do edredom jogado ao pé da cama, das
mãozinhas frias, do corpinho encolhido num canto do colchão, do resfriado
rondando o filhote. E sai do próprio aconchego só para conferir. Com mãos de
fada, puxa as cobertas, ajeita o filho e volta para seu próprio sono sem fazer
qualquer ruído.
Todos
nós, grandes ou pequenos, cruzamos com vários tipos de amor ao longo da vida.
Amores estão sempre surgindo (devem estar sempre surgindo em vidas saudáveis e
dignas). Amigos, parentes, amantes, esposos, filhos.
O
afeto, em maior ou menor medida, nos cerca e nos acalenta ao longo da
existência. Mas, de todos os amores de uma vida, entre todas as pessoas que hão
de nos querer bem, a mãe da gente é a única que vai sair da cama – uma, duas,
várias vezes por noite – apenas para vigiar nosso sono, protegendo-nos do frio.
A
mãe, a mãe sem nacionalidade, sem idade, sem profissão; a mãe – essa entidade
quase celestial – sai do aconchego da própria cama quentinha e cobre (ou
cobriu, ou cobrirá) seu filho no meio da noite, saindo do quarto tão
silenciosamente quanto entrou. Amor de mãe é assim: invisível, incansável. Amor
de mãe é... amor de mãe.
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