JANIO
DE FREITAS
O dia dos 30 milhões
O
provável é que protegidos da CPI respondam na Justiça o que estão dispensados
de responder no Congresso
O
teste não tarda: será na terça-feira, próxima reunião da CPI do Cachoeira. É quando
se constatará ou se desmentirá um pretenso acordo do relator Odair Cunha, para
adiar até esta semana a votação das convocações da Delta Construções (por um
dirigente) e de seu "ex-dono" Fernando Cavendish.
Ambos
foram excluídos das convocações de quinta passada, segundo o pretenso acordo,
para facilitar o entendimento de PT-PMDB-PSDB que livrou de inquirição os
governadores Agnelo Queiroz (PT), Sérgio Cabral (PMDB) e Marconi Perillo (PSDB).
Se a
proteção for só por motivos partidários, que no fundo comprovam a culpa do
protegido, até que sairá barato para os responsáveis pela imoralidade da CPI. Será
outra de tantas repetições de uma ordinarice apelidada de política de partido.
Mas é
impossível esquecer a afirmação de Cavendish, em seus recentes tempos de arrogâncias,
segundo a qual "eu [ele lá] ponho 30 milhões na mão de qualquer um deles e
tenho o que eu quiser". (Houve transcrições da frase com diferenças de
forma, mas todas iguais no valor, na razão do seu uso e no resultado produzido.)
O
provável é que os protegidos da CPI venham a responder nos tribunais, por força
do inquérito policial, o que estão dispensados de responder no Congresso. Mas a
Delta e Fernando Cavendish compõem uma das chaves para se esclarecer o "sistema
Cachoeira". E, com isso, são chave de grande parte dos mecanismos e
variedades de corrupção que minam o Congresso, corroem ministérios e deterioram
governos com a gatunagem multibilionária nos cofres do dinheiro público.
Já estão
expostas muitas indicações da ligação central da Delta com Cachoeira e sua rede.
Indicações que vão desde o tráfico de influência na administração pública, com
a finalidade de negócios mais do que suspeitos, à proteção contra tentativas de
investigar as conquistas de contratos, adicionais e lucros formidáveis da Delta.
Terça-feira a CPI chegará a uma encruzilhada.
EXCEÇÃO
O
senador Alvaro Dias, agora líder do PSDB no Senado, não pode ver um microfone
de TV ou um gravador de repórter. Fala, fala, fala -e não diz nada. Afinal, uma
fala sua produz efeito: "Se houver deliberação a respeito de Perillo,
vamos dar o troco".
Deliberação,
aí, é convocação pela CPI. Troco, é requerimento para convocação também dos
governadores Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral. No papel de guarda-costas do
governador Marconi Perillo, Alvaro Dias facilitou o acordo de blindagem dos três
governadores.
O PRÓPRIO
Revira
o estômago a última frase da mensagem do deputado do PT paulista Cândido
Vaccarezza ao governador Cabral, captada por um câmera de TV: "A relação
com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu".
(Assim
mesmo: "teu".) As tentativas faladas e escritas de Vaccarezza,
depois, para revirar a frase, só confirmam: este empenhado protetor da Delta é um
deputado azedo.
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