sexta-feira, 25 de maio de 2012



Os muitos Getúlios

Getúlio Vargas foi o homem que governou o Brasil por mais tempo: de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954, ano de seu suicídio. Antes de Getúlio o Brasil encontrava-se em estágio pré-industrial e, em poucos anos, a era Vargas construiu uma indústria siderúrgica imensa, houve uma revolução na infraestrutura de transportes e energia, as bases da indústria petrolífera foram lançadas e o proletariado foi incorporado à vida nacional.

Getúlio Vargas - A esfinge dos pampas, biografia do conceituado professor e brasilianista inglês Richard Bourne, editada pela Geração Editorial, soma-se à já extensa bibliografia sobre nosso maior político do século XX e demonstra que, sopesadas as qualidades e defeitos de Vargas e as realizações de seus governos, o fiel da balança pende a favor do gigante de lm60cm de altura.

Bourne publicou, pela Geração, Lula do Brasil, a história real e, nesta biografia de Vargas, considerada a mais imparcial, bem escrita e profunda, tanto em termos de análise política quanto de análise psicológica, decifra o sorriso enigmático do presidente suicida e outros enigmas da “esfinge dos pampas”.

Segundo o brasilianista, Getúlio chegou ao poder através de uma revolução e esmagou várias revoluções. Fortaleceu a classe trabalhadora mas enfraqueceu a democracia. Vargas lutou pelo bem-estar social mas atentou contra liberdades individuais, industrializou o País e defendeu os direitos dos cidadãos, mas também dotou de poder quase ilimitado as forças armadas, assim criando, inadvertidamente, um monstro que acabou por devorá-lo em 1954 e, depois, ao Brasil, em 1964.

As muitas faces do homem de São Borja que governou como ditador, suprimiu liberdades e exerceu a censura e, anos mais tarde, eleito pelo povo, governou como democrata, colocou o interesse público acima de tudo,  desagradou reacionários e acabou por seu deposto por militares.

Quem foi o homem que modernizou o País? Revolucionário ou reacionário? Autocrata ou democrata? Fascista ou comunista? Progressista ou conservador? Opressor ou vítima? Quem foi realmente o homem que criou três partidos, legou muito à nação e até hoje divide opiniões?

O certo é que Vargas transformou o País numa nação, que sua vida e seus atos merecem muitas reflexões e que o julgamento das pessoas, do tempo e da história, os que interessam mais, sem dúvida lhe são amplamente favoráveis. A obra de Richard Bourne vem em boa hora. Geração Editorial, 320 páginas, R$ 39,90.
Jaime Cimenti

Nenhum comentário: