CARLOS
HEITOR CONY
"Res sacra reus"
RIO
DE JANEIRO - Mais por penitência do que por curiosidade, assisti até o fim à sessão
da comissão de inquérito que convocou o Cachoeira para dar informações sobre o
atual e vergonhoso escândalo que continua em cartaz.
No
meu entender, e no entender de muitos dos parlamentares da própria comissão,
foi um espetáculo patético e inútil. Afinal, o réu já está preso e está sendo
investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. A menos que adote o
recurso da delação premiada, em nada poderá esclarecer a rede de corrupção que
a cada dia parece maior e letal.
Duas
observações aqui do cronista: em primeiro, o respeito devido à posição de Márcio
Thomaz Bastos -muitos o criticam por aceitar a defesa de um criminoso de
tamanho calado. Daí, talvez, ele tenha aconselhado o Cachoeira a ficar calado o
tempo todo.
Em
abril de 1964, quando começaram os processos e IPMs da turma que tomou o poder
naquele ano, escrevi uma crônica no "Correio da Manhã" que foi
traduzida e transcrita num importante jornal de Washington. O título foi
exatamente o mesmo desta crônica: "Res sacra reus". O réu é coisa
sagrada.
Isso
vale para todos.
Inclusive
no Tribunal de Nuremberg, que julgou e condenou a cúpula nazista, os maiores
criminosos daquele período tiveram grandes advogados e nenhum deles foi privado
do direito de ficar calado ou de se justificar, razão pela qual alguns
escaparam da forca.
Uma
CPI não tem poder de polícia. Serve para investigar e denunciar atos criminosos
-que, no caso específico do Cachoeira, já estão sendo investigados.
A
imprensa também atua neste sentido, mesmo sem poder de polícia.
Mas
a corrupção em si está de tal forma instalada na sociedade que dificilmente será
expurgada de nossa vida nacional.
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