Jaime
Cimenti
A única certeza
Nos
anos 1960, século XX, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Colégio Padrão,
o Julinho, o professor Léo, nos discursos inflamados das manhãs, bradava, com a
voz embargada de emoção, que o Julinho não estava apenas nas páginas
empoeiradas dos livros da biblioteca e nos fatos da História.
Exclamava
que o Julinho era principalmente aquela juventude vibrante, que haveria de
atravessar as cortinas do futuro e muito fazer pelo Rio Grande e pelo Brasil.
Saí do Julinho em 1972, procuro fazer, modestamente, dentro de minhas muitas
limitações, minha parte. Lembro também do saudoso professor José Carlos
Mattoso, mestre de filosofia, que, às oito da matina, com voz grave e
fisionomia austera, nos falava das candentes e eternas questões filosóficas e
nos alertava que a única certeza em relação ao futuro era a morte.
O
professor Cinel, também de filosofia, amenizava e dizia que os humanos tinham
inventado o abajur, o colchão e o cigarro e que o resto era mais ou menos a
mesma coisa, desde milênios. Uma jovem e instigante professora, Maria
Aparecida, nos indicou leituras de Sidarta, de Hermann Hesse, e Cartas a um
jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, duas preciosidades.
Pois
é, se não aprendi muito, não foi por falta de livros e professores. Aprendi que
além da morte temos poucas certezas com relação ao futuro: comunicados e
cobranças da Receita Federal, aniversários e projetos de Oscar Niemeyer,
aumentos de valores de condomínio e vitórias do glorioso S.C. Internacional.
O
resto é incerto. Estamos, mais que nunca, condenados à falta de certezas.
Estamos presos ao excesso de liberdade, de sons, palavras, imagens e escolhas.
Referências duradouras, mestres com prazos de validade de mais de seis meses,
considerações sobre ética e verdade válidas por mais de um ano andam escassas.
Certeza zero. Dizem os pós-modernos: não há critérios rígidos e as fronteiras
de tudo estão borradas. Marx falou tudo que é sólido desmancha no ar. Até vida
de um palito de fósforo encurtou.
Pós-modernos
dizem que não sabem direito o que é pós-moderno, que é impossível traçar
contornos nítidos dos conhecimentos e que temos de lidar com o infinito.
Concordo. Só quero uma pequena certeza: se eu morrer, que ao menos uma pessoa
abra uma velha página do Jornal do Comércio ou o arquivo eletrônico e leia
alguma coisinha escrita por mim e se emocione. Uma só me basta. O resto é mar.
Viver é o grande perigo, disse o Guimarães Rosa, meio duvidoso.
Jaime
Cimenti
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