14
de maio de 2012 | N° 17069
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
É muito grave!
Quando
menos se espera, surge uma surpresa, ainda que velha e carcomida, e por isso
mesmo surpresa ainda maior. Confesso que não supunha tivesse de ver o
ressurgimento de uma grosseira violência fartamente praticada ao tempo do
regime autoritário.
Pois
a censura à imprensa que vicejou naquele período passou a ter defensores, agora
sob a máscara do “marco regulatório da comunicação”, volto a dizer que, nesta
altura do século, não imaginava que alguém tivesse a ousadia de pretender a
censura à imprensa e o autor dessa iniciativa fosse parlamentar com a agravante
de ser presidente de partido numeroso que, aliás, tem na presidente da República
uma filiada. É espantoso.
A
propósito, começo por lembrar a observação de Guglielmo Ferrero em seu profundo
estudo sobre “O Poder”, “a censura, a princípio limitada à imprensa de oposição,
pouco a pouco alarga-se a todas as manifestações do espírito”, razão por que,
escreveu Rui Barbosa, “de todas as liberdades, é a da imprensa a mais necessária
e a mais conspícua”, e como sempre ocorre quando se cuida dos valores supremos
de liberdade, de dignidade humana, de justiça, é a ele que se recorre;
e,
quando se verifica que o presidente de um partido e parlamentar por ele eleito
postula a censura à imprensa, é de ser lembrada a lição do estadista que também
foi jornalista; em “A imprensa e o dever da verdade”, “por agros e amaríssimos
que sejam os assuntos ventilados, quando a verdade o exige, muita vez se perderá
por carta de menos, mas por carta de mais não há perder nunca. Quanto mais
robusta a nacionalidade, mais largo os seus costumes no exercício deste direito.
É um
dos sintomas, por onde melhor se revela, em qualquer comunidade, a sua boa saúde
moral. As que não suportam com serenidade a discussão dos escândalos públicos,
e não reconhecem o civismo dos que, para os desmascarar, se afrontam com o
poder, o dinheiro, a soberba dos grandes, ainda bem longe se acham dessa
autonomia, em que se lhe embala a vaidade”.
Pois
é esse patrimônio cultural e institucional que se pretende agora mutilar,
quando resistiu inclusive em períodos de ostensiva, desabrida e demorada
ditadura. É realmente impressionante a naturalidade com que se apregoa a
natureza da iniciativa e sua finalidade.
Como
é sabido, foi a Veja que, por primeiro, divulgou irregularidades graves em
ministério que levou o respectivo titular a pedir demissão, maneira diplomática
de despachar o ministro envolvido. A partir de então, sucederam-se as denúncias,
de evidente gravidade, deduzidas por conceituados jornais, de resto, os maiores
do país, a Folha de S. Paulo, o Estadão, o Globo... até que os dois últimos
ministros alvejados foram “blindados” pela senhora presidente, segundo se diz,
para não comprometer o ministério inteiro, que terminaria esfarrapado pelo critério
pelo qual fora composto.
O
fato é que foi a imprensa, e só ela, que descobriu e divulgou as insignes
anomalias e todas teriam ficado incólumes não fora a imprensa, pois dos serviços
estatais nenhuma contribuição apareceu. Nenhuma. Agora a situação se agravou
ainda mais. Para resumi-la, sirvo-me do editorial do O Globo que usou de seu
prestígio e autoridade para analisar um fato inédito.
O
artigo começa assim: “Blogs e veículos de imprensa chapa-branca que atuam como
linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada
contra a revista Veja, na esteira do escândalo Cachoeira/ Demóstenes/ Delta”. E
aditou “é indisfarçável, ainda, a tentativa de atemorizar a imprensa
profissional como um todo...”
Como
se vê, é urgente amordaçar a imprensa que descobriu coisas que o aparato
estatal com seus imensos recursos nem imaginava pudessem existir.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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