31
de maio de 2012 | N° 17086
L. F.
VERISSIMO
A maior metáfora do
mundo
Paris – Faz
cem anos que o Titanic foi ao fundo, e o aniversário do naufrágio está tendo
quase tanta cobertura quanto o próprio naufrágio. Há exposições sobre o navio e
seu fim em várias cidades da Europa e discute-se outra vez desde as minúcias do
desastre, como a desatenção do comando do navio aos vários alertas de icebergs
na rota, até seu significado maior.
Um jornal
satírico americano fez uma edição inteira lembrando o acidente e seus
intérpretes, cuja manchete principal era “Maior metáfora do mundo bate em
iceberg e afunda”.
Que o
trágico fim da maior coisa construída pelo homem até então era uma metáfora
ninguém discutia. Mas qual, exatamente, a metáfora?
O naufrágio
do Titanic marcava o fim tardio do século 19 e sua confiança ilimitada no
progresso tecnológico. Como um castigo a mais pela pretensão do século que
findava, dali a dois anos toda a nova engenhosidade da era estaria engajada nas
máquinas de morte da Grande Guerra e a tragédia precursora do Titanic
simbolizaria um adeus à inocência.
Chamado de
indestrutível, o Titanic desafiara os deuses, como os titãs do mito, e, como os
titãs, fora destruído pelos deuses – metaforicamente.
Outra
metáfora: nada simboliza a divisão de classes como a divisão das classes num
navio como o Titanic, onde os viajantes do porão, inclusive as crianças,
tiveram poucas chances de escapar com vida. O Titanic também era o mundo do
privilégio ostensivo e da massa descartável metaforizado.
Cherburg,
na Normandie, tem uma razão especial para lembrar o Titanic. Seu porto foi uma
das duas escalas feitas pelo navio depois de deixar Southampton.
Estivemos
há dias na simpática Cherburg – que também foi um porto importantíssimo durante
a II Guerra Mundial e é a terra dos guarda-chuvas filmada por Jacques Demy, com
música de Michel Legrand. Fomos visitar sua exposição dedicada ao Titanic.
Excelente. No rádio do carro, não, não Michel Legrand, mas, juro, Ai se eu te
pego. Simbolizando, pensando bem, nada.
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