25
de maio de 2012 | N° 17080
DAVID
COIMBRA
O maior gênio da
História
Quem
é o maior gênio político da Humanidade de todos os tempos?
É um
negro sorridente de 1m92cm de altura chamado Nelson “Rolihlahla” Mandela. Esse
Rolihlahla é um nome xhôsa, a etnia de Mandela, que literalmente quer dizer
“puxando uma ramada para baixo”, mas que tem o significado de “encrenqueiro”.
Mandela,
de fato, foi encrenqueiro quando jovem; hoje é o oposto disso. A incomparável
obra de Mandela é uma obra cristã, no sentido filosófico. É uma obra de amor.
Mandela conseguiu o impossível: pacificou povos e formou uma nação valendo-se
de gestos e palavras. Só de gestos e palavras.
A
África do Sul era um regime racista oficial. Um segregacionismo de Estado, mais
institucional do que o fascismo e o nazismo europeus. Durante esse confronto de
décadas, foram cometidas atrocidades de ambos os lados (mais do lado dos
brancos, que detinham o poder, é evidente). Negros e brancos sentiam medo uns
dos outros, e é do medo que nasce o ódio.
Mandela
assumiu e, em quatro anos, convenceu um país inteiro de que era preciso
renunciar à vingança e, às vezes, à justiça, para viver em paz. Estive na
África do Sul. Vi e ouvi brancos e negros se posicionando a respeito das
feridas abertas do país. Suas ideias são fruto da reflexão.
Eles
foram convencidos do que deviam pensar e de como deviam agir, e é assim que
fazem. Nada do que aconteceu, na África do Sul, foi esquecido. Ao contrário: as
dores são lembradas e repisadas todos os dias. Mas a consequência dessa
purgação não é retroativa. É uma limpeza que desimpede o caminho.
O
que Nelson “Rolihlahla” Mandela fez é gigantesco. É único. Ele aplicou na
prática a pregação revolucionária de Jesus Cristo de 20 séculos atrás, algo que
nem a igreja dita cristã conseguiu sequer compreender. Esse negro nonagenário e
aparentemente manso é mais do que um homem; é um monumento ao Ser Humano.
O
mundo seria um lugar melhor para se viver se as pessoas entendessem a obra de
Mandela. Muitos dos conflitos e das crueldades deles decorrentes, muito da
aflição que um homem pode causar a outro homem, muito do Mal, enfim, seria
contido, se a lição que Mandela ensina todos os dias fosse assimilada.
No
Brasil, sempre existiu esse sentimento que Mandela ensinou intelectualmente. No
Brasil, nada funciona na base do confronto. Tudo tem de ser conversado, tudo
tem de ser feito com alguma ponderação, com boa parcimônia. Mas a corrupção e a
violência estão arrastando o brasileiro para os extremos. Esta semana, vi o
vídeo de uma repórter de TV da Bahia humilhando um rapazote que havia sido
preso por furto. Vi também os parlamentares de Brasília humilhando Carlinhos
Cachoeira numa sessão da CPI.
Para
a repórter baiana e para os congressistas, os delitos do rapazote e do bicheiro
justificam os insultos, o desrespeito e o achaque, e grande parte da população
os aplaude, porque se sente desforrada. É o caminho inverso da África do Sul.
Lá, um país formado no conflito, aprendeu racionalmente que às vezes a
tolerância é melhor até do que a justiça.
Aqui,
um país formado na tolerância confunde a necessidade de justiça com o desejo de
vingança. Que tragédia que exista um único Mandela no mundo.
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