ELIANE
CANTANHÊDE
Memória e
história
BRASÍLIA
- Dilma Rousseff pode ter vivido ontem o grande momento de seus quatro (ou
oito) anos de governo, com a instalação da Comissão da Verdade e o início da
Lei de Acesso à Informação. São dois passos importantes para um país que há 27
anos tricota sua democracia.
A
menina que lutou, foi presa e torturada por uma ditadura militar tornou-se a
primeira presidente mulher do Brasil e, emocionada, mal contendo o choro,
lembrou que a verdade não é retaliação nem perdão, é "memória e
história".
E
centrou no drama interminável dos desaparecidos, que é um drama também de cada
um de nós: "É como se disséssemos que existem filhos sem pai, existem pais
sem filhos, existem túmulos sem corpos".
Para
dar um caráter histórico à cerimônia, Dilma se fez ladear pelos antecessores
Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula, brindando com todos eles num almoço
no Alvorada. Um momento, mais do que suprapartidário, republicano.
Quanto
aos alvos e à extensão da Comissão da Verdade, seus sete membros refletem o que
se discute na própria sociedade e divergem publicamente se é para investigar só
os torturadores ou se é para vasculhar também a esquerda armada.
Diante
do consenso de que a verdade é "memória", sem retaliação e sem a
intenção de judicializar os resultados, a solução para o impasse -ou como se
chamem as divergências- é simplesmente contar a história, com seus atores e
seus momentos, sem cortes, sem trucagens.
Não
se preocupem as vítimas, os familiares, a esquerda, porque essa história fala
por si. Basta contá-la, sistematizando o que já há e acrescentando o quanto
falta para que tenha um começo, um meio e (finalmente...) um fim.
Foi
uma guerra desigual e desumana, com torturadores de um lado e torturados de
outro. Não há nenhuma outra verdade a ser investigada que possa se impor a essa
realidade.
elianec@uol.com.br
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