20 de maio de 2012 | N° 17075
PAULO SANT’ANA
Olá, como
vai?
Já faz alguns anos que sempre que uma pessoa me pergunta
como vou, respondo: “Normal”. Sempre digo a mesma coisa.
Essa sentença é terrível, mais para mim, que sei que eu
estar indo “normal” quer dizer que vou indo, como sempre, mal. Até mesmo dentro
da palavra normal existe o advérbio “mal”.
Não há nada mais desanimador para uma pessoa que ter uma
vida normal.
Explico: esses dias, fui jantar com um amigo que há muito
tempo não via. Começamos a perguntar um para o outro como ia nossa vida.
E eu lhe indaguei: “Como está tua vida, afinal, meu amigo?”.
A resposta dele foi incrível: “Razoável”.
Posso estar enganado, mas alguém que vive uma vida razoável
anda profundamente infeliz.
Não é bem isso que acontece com esse meu amigo que jantou
comigo, mas razoável quer dizer regular.
E quem vive uma vida regular certamente não está vivendo uma
vida boa. O que me aterroriza é que a maioria das pessoas vive uma
vida normal ou razoável.
Eu imagino que seja uma vida sem triunfos, sem
acontecimentos positivos marcantes, aquela vida cansativa, nauseante,
repetitiva, do trabalho para casa, uma vida sem acontecimentos destacados, uma
péssima vida.
No entanto, a vida da maioria das pessoas não deixa de ser
um ramerrão, marcado apenas por fatos corriqueiros, singelos, sem maior
significação.
Eu fico muito triste de ouvir das pessoas a seguinte
opinião, quando se pergunta a elas como vai a vida: “Eu vou indo”.
Eu vou indo é uma coisa meio idiota que quer dizer mais ou menos
o seguinte: a vida é uma porcaria.
Ou seja, quer dizer que a vida daquela pessoa não muda, é
sempre a mesma, não sai do lugar, passam os anos, longos anos, nada mais aquela
pessoa espera da vida que não seja a morte.
E vai indo. A pessoa não é doente, tem família constituída, tem filhos,
tem emprego, mas não tem o que é fundamental na vida: a felicidade.
Eu tenho inveja das pessoas que são felizes ou que se
satisfaçam com pouco. Embora eu acredite convictamente que só pode ser feliz
uma pessoa que se satisfaça com pouco.
Mas existem também os casos das pessoas que são felizes e
não se consideram felizes. Mas eu acho que não existe o inverso: a pessoa que é infeliz
e se considera feliz.
Ainda não se definiu bem o que seja felicidade.
E eu sou tão pessimista, que me consideraria feliz só com o
fato de que eu fosse pouco infeliz.
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