ELIANE
CANTANHÊDE
Abstinência de poder
BRASÍLIA
- Como escrito nas estrelas desde o encontro nada institucional entre Lula e
Gilmar Mendes, Gilmar destrambelhou e se jogou no centro de uma fogueira que não
era dele, enquanto Lula faz o caminho inverso: assume a condição de vítima, com
direito a homenagem de Dilma em palácio, vídeo do presidente do PT e guerrilha
da "militância abnegada" na internet.
Antes
que o grave erro de Lula passe a contar a favor e não contra ele, registre-se
que o fim do poder lhe fez muito mal. Desde que desceu a rampa do Planalto,
Lula vem pisando em falso e botando os pés pelas mãos.
Impôs
unilateralmente Haddad ao PT-SP, assim como impusera Roseana Sarney para o PT-MA.
São Paulo, porém, não é o Maranhão e Marta Suplicy não é Domingos Dutra.
Haddad
é, de fato, um bom produto eleitoral e, se ganhar, será um fenômeno à la Dilma.
Mas, por enquanto, patina e custa cada vez mais caro na negociação com os
aliados.
Lula
também atropelou Dilma, o Congresso e meia bancada do PT ao exigir a criação de
uma CPI que só interessava à sua sanha contra a oposição e para embaçar o
mensalão.
Do
ponto de vista prático, Cachoeira e seus comparsas já estavam presos, Marconi
Perillo já tinha caído nos grampos da PF e Demóstenes já estava na lona. Agora,
com a quebra de sigilo da Delta, muitos aliados e muitas obras do governo
federal podem entrar na dança.
E,
enfim, nada pode ser mais "faca no pescoço" do Supremo (como temem os
advogados dos réus do mensalão) do que a pressão, orientação ou insinuação de
um ex-presidente tão popular e que indicou 8 dos 11 ministros da corte. O que
mais Lula pretenderia ao procurar Toffoli e Lewandowski diretamente e outros
ministros via seus padrinhos?
Se
despreza as regras republicanas, ele deveria ao menos usar sua intuição
brilhante e sua habilidade política invejável para imaginar o estrago que
Gilmar faria. Como fez.
elianec@uol.com.br
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