segunda-feira, 28 de maio de 2012



Canta, dança e sapateia

Quem são os jovens atores estrelas de musicais no Brasil -e como se tornar um deles

GABRIEL JUSTO - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao som de "Material Girl", de Madonna, Felicia chega ao palco sustentada por um enorme cifrão brilhante. Ela é uma das drag queens do musical "Priscilla, A Rainha do Deserto".

Por trás de um figurino glamuroso e de muita maquiagem, está o ator brasiliense André Torquato, 18, interpretando o primeiro protagonista de sua carreira.

Apesar da pouca idade, Torquato é considerado um dos nomes fortes dos musicais no Brasil. Ator desde os sete anos, já atuou em três grandes espetáculos desde que foi descoberto pelo diretor Charles Möeller, aos 15.

"Quando passei no teste para 'A Noviça Rebelde', me mudei para São Paulo. Depois fui convidado para o musical 'Gypsy' e tive que ser emancipado pelos meus pais, abrir uma empresa. Vi que a coisa tinha engrenado", conta ele, que trabalhou em "As Bruxas de Eastwick" interpretando o desengonçado Michael.

Mas Torquato não é uma exceção. Laura Lobo, 21, também faz parte do seleto grupo de jovens prodígios do teatro musical brasileiro.

Aos nove anos, integrava o elenco infantil do musical 'Les Misérables'. Aos 18, ficou conhecida pela personagem Martha, em 'O Despertar da Primavera'.

"Meu pai é músico e minha mãe é cantora. Toda a minha família sempre foi ligada à arte", diz ela, que hoje interpreta Vandinha no recém-estreado "A Família Addams".

O CAMINHO DAS PEDRAS

Ser reconhecido e fazer sucesso como Torquato e Laura é o que deseja uma galera que, incentivada por séries como "Glee" e principalmente pelo crescimento do mercado de musicais no Brasil, está se preparando em cursos especializados na formação de "performers".

A demanda cresceu tanto nos últimos anos que já há uma escola de teatro em São Paulo inteiramente dedicadas à formação desses "performers", atores que, como se diz, interpretam, cantam, dançam e sapateiam.

Para se ter ideia de como o mercado está aquecido, só a produção de "Priscila", musical protagonizado por Torquato, tem 27 pessoas no palco e o custo da produção se aproximou de R$ 10 milhões.

Ricardo Marques, diretor da 4Act Performing Arts, que recruta jovens para o gênero, diz que qualquer um que queira se tornar um ator de musicais tem chance.

"Nosso objetivo aqui não é pegar o melhor, mas sim o mais talentoso, o que tem maior potencial, e transformá-lo num artista completo."

Descobridor de talentos do teatro musical, o diretor Charles Möeller conta que antigamente era muito difícil achar atores jovens que cantavam e dançavam.

"Hoje em dia, eles já entenderam que existe lugar no mercado e que este pode ser um trabalho rentável, seguro e com inúmeras possibilidades", explica.

Quando perguntado sobre o que recomenda para quem quer seguir carreira na área, Möeller não tem papas na língua e faz alguns alertas.

"Caso essa vontade seja fruto de uma vocação, a pessoa vai precisar abdicar de muita coisa na vida -como baladas, amigos e viagens- para se estabelecer na profissão. Caso contrário, meu conselho é que desistam antes de começar, pois o mercado é muito complexo, terrível."

Ou seja: tem que ter dedicação e muita, muita força de vontade. Como para quase tudo na vida. A diferença é que dá para fazer isso de um jeito bem divertido: cantando, dançando e sapateando.

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