Canta, dança e
sapateia
Quem
são os jovens atores estrelas de musicais no Brasil -e como se tornar um deles
GABRIEL
JUSTO - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao
som de "Material Girl", de Madonna, Felicia chega ao palco sustentada
por um enorme cifrão brilhante. Ela é uma das drag queens do musical
"Priscilla, A Rainha do Deserto".
Por
trás de um figurino glamuroso e de muita maquiagem, está o ator brasiliense
André Torquato, 18, interpretando o primeiro protagonista de sua carreira.
Apesar
da pouca idade, Torquato é considerado um dos nomes fortes dos musicais no
Brasil. Ator desde os sete anos, já atuou em três grandes espetáculos desde que
foi descoberto pelo diretor Charles Möeller, aos 15.
"Quando
passei no teste para 'A Noviça Rebelde', me mudei para São Paulo. Depois fui
convidado para o musical 'Gypsy' e tive que ser emancipado pelos meus pais,
abrir uma empresa. Vi que a coisa tinha engrenado", conta ele, que
trabalhou em "As Bruxas de Eastwick" interpretando o desengonçado
Michael.
Mas
Torquato não é uma exceção. Laura Lobo, 21, também faz parte do seleto grupo de
jovens prodígios do teatro musical brasileiro.
Aos
nove anos, integrava o elenco infantil do musical 'Les Misérables'. Aos 18,
ficou conhecida pela personagem Martha, em 'O Despertar da Primavera'.
"Meu
pai é músico e minha mãe é cantora. Toda a minha família sempre foi ligada à
arte", diz ela, que hoje interpreta Vandinha no recém-estreado "A
Família Addams".
O
CAMINHO DAS PEDRAS
Ser
reconhecido e fazer sucesso como Torquato e Laura é o que deseja uma galera
que, incentivada por séries como "Glee" e principalmente pelo
crescimento do mercado de musicais no Brasil, está se preparando em cursos
especializados na formação de "performers".
A
demanda cresceu tanto nos últimos anos que já há uma escola de teatro em São
Paulo inteiramente dedicadas à formação desses "performers", atores
que, como se diz, interpretam, cantam, dançam e sapateiam.
Para
se ter ideia de como o mercado está aquecido, só a produção de
"Priscila", musical protagonizado por Torquato, tem 27 pessoas no
palco e o custo da produção se aproximou de R$ 10 milhões.
Ricardo
Marques, diretor da 4Act Performing Arts, que recruta jovens para o gênero, diz
que qualquer um que queira se tornar um ator de musicais tem chance.
"Nosso
objetivo aqui não é pegar o melhor, mas sim o mais talentoso, o que tem maior
potencial, e transformá-lo num artista completo."
Descobridor
de talentos do teatro musical, o diretor Charles Möeller conta que antigamente
era muito difícil achar atores jovens que cantavam e dançavam.
"Hoje
em dia, eles já entenderam que existe lugar no mercado e que este pode ser um
trabalho rentável, seguro e com inúmeras possibilidades", explica.
Quando
perguntado sobre o que recomenda para quem quer seguir carreira na área,
Möeller não tem papas na língua e faz alguns alertas.
"Caso
essa vontade seja fruto de uma vocação, a pessoa vai precisar abdicar de muita
coisa na vida -como baladas, amigos e viagens- para se estabelecer na
profissão. Caso contrário, meu conselho é que desistam antes de começar, pois o
mercado é muito complexo, terrível."
Ou
seja: tem que ter dedicação e muita, muita força de vontade. Como para quase
tudo na vida. A diferença é que dá para fazer isso de um jeito bem divertido:
cantando, dançando e sapateando.
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