22 de maio de 2012 | N°
17077
FABRÍCIO CARPINEJAR
Homem que broxa ao trair não foi
infiel
Todo homem que broxa em caso
extraconjugal merece o perdão.
Uma escapadela do casamento com
broxada não pode ser condenada. É um triunfo da monogamia.
A falta de ereção anula o crime,
isenta o desvio, elimina a culpa.
É como sessão de cinema no
blecaute. Devolve-se o ingresso.
Se ele falhou com outra mulher,
não foi infiel. Ofereceu a mais alta prova de adesão a um relacionamento
estável.
O encontro não pode mais ser
enquadrado como pulada de cerca. Pelo contrário, o sujeito fortaleceu a relação
familiar, construiu um muro de proteção de sua intimidade. Negou a pretendente
e – broxando – apagou esperança de reincidência.
De modo nenhum deve contrair
vergonha do ato, esconder a informação, sonegar a cena. A broxada é uma medalha
de honra ao mérito, uma distinção afetuosa, vale como tempo de serviço para as
bodas de ouro.
Ao tentar trair e fracassar,
demonstrou que realmente ama sua esposa. Foi uma prova incontestável de
dependência. Uma declaração absoluta de lealdade. Um atestado de submissão
amorosa.
Sacrificou-se para dar o exemplo
e não gerar dúvidas de seu estado civil. Levou a aventura às últimas
consequências. Testou a libido e recebeu o resultado negativo. Respondeu aos
demônios da excitação com o desânimo da carne.
Broxou como quem escreve um
testamento, como quem dedica seu suspiro ao quarto do casal.
Não foi fraco de fugir no bar.
Não foi covarde de esnobar convite. Não desistiu, caminhou muito além das
palavras. Provou mesmo que não queria com seu instrumento murcho, acabado,
inofensivo.
Não é pouca a coragem. Recusou
Viagra e paraísos artificiais, afrodisíacos e ceras amazônicas.
Num manifesto camicase, explodiu
a reputação de comedor por uma causa nobre, a dizer alto e em bom som para sua
companhia:
– Não adianta insistir, ninguém
me excita a não ser minha esposa.
Desembainhou a espada pela paz,
entrou na arena para não lutar. Experimentou a hombridade da rendição, a
resistência dos santos no deserto.
Não usou atenuante, não mentiu,
sequer fingiu, nem mergulhou no sexo oral para ganhar terreno, assumiu que não
estava a fim, que não desejava aquilo, que tinha que regressar ao lar. Com
coragem e cara limpa, sem hipocrisia, olhando nos olhos de sua presa.
Rejeitou a outra depois que ela
tirou a roupa. Largou o flerte em plena nudez. Humilhou a amante com a frase
mais monogâmica do mundo:
– Desculpa, eu não consigo.
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