24
de maio de 2012 | N° 17079
LETICIA
WIERZCHOWSKI
Um bom motivo para gastar
dinheiro
Existem poucas companhias tão boas quanto
um bom livro. Só não sabe disso quem não tem o hábito da leitura, mas esses,
bem, não estão me lendo agora... Imaginem, então, 12 bons livros. É
praticamente uma festa. Convidar os seus melhores 12 amigos (e olha que ter 12
bons verdadeiros amigos é uma façanha) e ficar bebendo, comendo coisinhas boas
e conversando pela madrugada afora? Delícia. Foi mais ou menos isso que a
Companhia das Letras fez ano passado ao lançar a sua coleção Prêmio Nobel, em
comemoração aos 25 anos da editora.
Doze
grandes títulos de autores agraciados pelo Nobel. Doze grandes companhias, não
para uma, mas para várias noitadas, várias tardes de absoluto deleite. Lá em
casa, estamos passeando pela coleção... Ossos de Sépia, do italiano Eugenio
Montale (nunca o li, confesso-lhes, mas meu marido anda pela casa com o livro
debaixo do braço).
Desonra,
do Coetzee (belíssimo, chocante, de uma beleza crua, assustadora, esse eu li
faz alguns anos). Jovens de um Novo Tempo, Despertai!, do Kenzaburo Oe – outra
joia. Já tinha lido Oe, mas fiquei fascinada por esse livro, misto de memória e
ficção, a história de um homem que resolve escrever uma enciclopédia sobre a
vida e a morte para o seu filho excepcional que vai completar 20 anos.
Terminei ontem Amada, da americana Toni
Morrison. E, sem poder parar de pensar no livro, resolvi falar sobre ele. Foi
então que me recordei que já tinha sugerido aqui o título do Kenzaburo Oe, e
que valia mesmo a pena sugerir a coleção inteira ao caro leitor.
Pois
terminar Jovens de um Novo Tempo, Despertai! e entrar em Amada é uma aventura.
Da contenção extremamente tocante de Kenzaburo Oe para o lirismo dolorido de
Toni Morrison... Em Amada, Toni nos conta a história de uma mulher e de sua
filha fantasma – uma escrava negra fugida nos Estados Unidos do século 19, uma
mulher tão dura e corajosa que prefere matar a própria filha a entregá-la à
servidão de uma vida inteira.
Um
belíssimo romance, que assusta e enternece, com uma narrativa muito peculiar,
uma construção ficcional perfeita. Um belíssimo livro, que me tocou muito, que
me instigou criativamente, e que venho aqui recomendar. Leiam Amada e todos os
outros livros da Coleção Nobel (Doris Lessing, V.S. Naipaul, Saramago, Naguib
Mahfouz, Isaac Singer e outros). Uma verdadeira festança.
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