19
de maio de 2012 | N° 17074
ANTONIO
AUGUSTO FAGUNDES
Penúltima
coluna
Esta será a minha penúltima coluna. E não será fácil
escrevê-la, pelas razões óbvias.
Eu
escrevo em jornal desde os 16 anos, ou seja, lá já se vão 61 anos publicando
coisas que, com raras exceções, dizem respeito à mais autêntica cultura do Rio
Grande do Sul.
Escrevo
de bota e de bombacha.
Comecei,
claro, na vetusta e histórica Gazeta de Alegrete, levado pela mão do saudoso
João Peres, um maragato fanático e ardoroso, que lutou na ponte do Ibirapuitã
em 18 de junho de 1923, nas forças de Honório Lemes, o Leão do Caverá. Mas, na
Gazeta, escrevi de tudo: crítica de cinema, entrevistas importantes. E
publiquei os meus primeiros poemas. Entre as entrevistas mais importantes que
fiz, estão a com Luiz Gonzaga, no Hotel Avenida, quando o grande artista foi ao
Alegrete para cantar na praça central.
Outra
entrevista que considero importante é a que fiz com o bandoleiro Tarquinio
Cardoso, o famoso Talco Cardoso, que estava preso na penitenciária de
Uruguaiana. A terceira foi uma comovente entrevista com o então famoso palhaço
Teco, popular nos parques de diversões que visitavam a cidade, artista
engraçadíssimo que criou bordões que ficavam na voz do povo, como “Perdi o
apetite!”.
Em
fevereiro de 1954, vim para Porto Alegre e queria fazer jornalismo gauchesco.
Assim, quando soube, no fim que daquele ano, que seria publicado um novo jornal
na capital gaúcha – e a cores! –, fui lá na Rua São Pedro e me apresentei para
o Capitão Erasmo Nascentes e para Josué Guimarães, que mandavam na redação.
Fiz
o teste, o teste foi aprovado, e fiquei lá até o fim, fazendo uma página
inteira chamada “Jornalismo e Tradição”, aos sábados, muitas vezes com
ilustrações coloridas do grande artista plástico Nelson Boeira Faedrich. Outro
diagramador meu foi o depois grande Xico Stockinger. O jornal, claro, era A
Hora e, em poucos meses, me deixou conhecido em todo o Estado.
Com
o fim de A Hora, passei para o Diário de Notícias, sempre com página inteira,
onde fiquei por vários anos e ganhei muito dinheiro vendendo assinaturas para o
jornal no litoral gaúcho. Com o grande fotógrafo Pedro Flores, entrevistei, em
São Paulo, Cassius Clay, que já era famoso quando trocou o seu nome para
Muhammad Ali, virando muçulmano. Até que, finalmente, ancorei na Zero Hora, em
1982, levado pelo Lauro Schirmer, querido amigo. A minha página foi diminuindo
até se transformar na coluna que é hoje.
Quanta
gente importante eu entrevistei. Quanto artista gauchesco eu lancei! Quanta
alegria eu experimentei, sem nunca sentir tristeza, decepção, golpe baixo.
Agora, aposentado na RBS, estou também parando de escrever. Quer dizer,
parando, não.
Se
qualquer assunto importante na minha área me chamar a atenção, voltarei à
redação da ZH com o mesmo entusiasmo do jovem repórter que fui, embora
compreensivelmente sem a mesma agilidade. Meu registro de jornalista
profissional já tem quase 60 anos e permanece válido. Gosto de pensar que nasço
jornalista e que vou morrer jornalista.
Eu
agradeço comovidamente a todos os meus leitores, que me acompanharam fielmente
todos esses anos. Deixo de ser colunista, mas não deixo de ser da Zero Hora.
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