26
de maio de 2012 | N° 17081
NILSON
SOUZA
A pracinha dos vovôs
O menininho arregalou os olhos e apressou o
passo no calçadão quando viu os equipamentos coloridos em movimento. Certamente,
imaginou-se na vertigem do escorregador ou no vaivém inebriante do balanço. Mas
a jovem mãe segurou-o pelo braço e tentou argumentar numa linguagem compatível
com a idade do garoto:
– Não, essa pracinha é dos vovôs.
Trata-se, na verdade, de uma dessas
academias ao ar livre, plantada entre as árvores do bairro, Ipanema, com seus
aparelhos de ferro verde. É frequentada diariamente por senhoras e senhores da
chamada terceira idade, que balançam os músculos já não tão firmes e os cabelos
grisalhos no ritmo dos simuladores.
Há o
simulador de cavalgada, que trabalha o equilíbrio e fortalece membros
superiores e inferiores; há o simulador de surfe, uma espécie de balanço
destinado a aumentar a capacidade respiratória; há o simulador de caminhada, o
simulador de esqui, uma espécie de manivela em forma de volante e também aquele
balanço lateral, que trabalha pernas e quadris.
Observando-se de longe, parece mesmo uma
pracinha infantil. Mas é, na verdade, um recanto planejado para o
compartilhamento de exercícios saudáveis. Faz parte do Programa Academia da Saúde,
do governo federal, que espalhou aparelhos semelhantes por quase 2 mil municípios
de todo o país com o propósito de prevenir as chamadas doenças crônicas não transmissíveis,
relacionadas ao sedentarismo, à obesidade e ao tabagismo. Os equipamentos
permitem atividades físicas de baixo impacto, oferecendo poucos riscos de lesões
aos praticantes.
Pelo que tenho visto diariamente, o
programa é um sucesso. A academia do meu bairro está sempre lotada e as pessoas
parecem estar se divertindo. De vez em quando, uma ou outra criança fura o
bloqueio dos adultos e participa da atividade, mas a frequência maior é mesmo
de atletas de cabelos brancos.
Foi-se
o tempo em que os velhinhos aposentados ficavam sentados nos bancos de praça, à
espera do crepúsculo da existência. Agora eles fortalecem os músculos e as
articulações para acompanhar o ritmo da vida. Um estilo de vida ativo garante,
inclusive, maior longevidade e reduz significativamente os riscos de acidentes
incapacitantes, como quedas domésticas e lesões causadas pela fraqueza muscular.
Foi mesmo uma ideia brilhante esta de
oferecer brinquedos novos para os velhinhos. E tem razão aquela mamãe do calçadão:
as crianças que procurem a sua turma.
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