22 de maio de 2012 | N°
17077
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Duas boas
1 - Dez dias atrás, o arquiteto
Paulo Bicca publicou um excelente exercício de crítica inteligente no Cultura,
aqui da Zero. Artigo imperdível, porque se trata de um profissional com
larguíssima folha de serviços prestados ao país, de um sujeito inteligente e
sensível e, não menos, de uma inteligência a serviço do coletivo.
(Pena que recebeu, no sábado
último, uma contradita pedestre, pretensiosa, arrogante, pseudointeligente,
corporativista e antirrepublicana, típica de abordagens acadêmicas que fazem
muita espuma e não geram nenhuma energia, salvo para brilhatura pessoal.)
A meditação do Bicca merece
ganhar eco: a cidade, que é nossa por definição – ela só existe porque nós não
somos autossuficientes, porque precisamos do coletivo –, costuma ser tratada
não como espaço compartilhado, mas como terra de ninguém.
Não me refiro a nenhum governante
em particular, mas a todos nós. E o passeio que o Bicca fez por Porto Alegre
nos educa o olhar, para enxergar o que há e o que pode haver; para avaliar o
mal silencioso que faz a todo mundo a feiura, a improvisação, a falta de horizonte,
na contínua construção da cidade.
2 - Como muita gente, tenho
ouvido menos rádio do que já ouvi em tempos passados. Mas já calhou de umas
tantas vezes voltar a experimentar a FMCultura, rádio que já teve momentos
altos, a partir de sua fundação, desejada por muitos de nós. Agora, tenho
acompanhado com grande gosto um programa às 11h da manhã, Cantos do Sul da
Terra, concebido e levado por Demétrio Xavier.
Sua seleção musical promove
encontros nada óbvios entre cancionistas do sul, abrangendo o que Ángel Rama
chamava de “a comarca do pampa”, sem bairrismo nem xenofobia, apenas com a
naturalidade de quem conhece este mundo e reconhece nele legitimidade para ser
como é, em português ou em castelhano.
A gente ouve tanto os autores que
seriam catalogados na divisão “folclore”, como Yupanqui, quanto os que fazem
música pop com nexos com a vida local, como Bebeto Alves. Isso sem contar que
Demétrio Xavier é um hábil leitor de literatura e ensaios sobre este mundo, de
forma que comenta e recomenda leituras como o rádio quase nunca faz (nem a
tevê). Outro excelente serviço pela inteligência, neste tempos.
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