18
de maio de 2012 | N° 17073
ARTIGOS
- Tâmara Biolo Soares*
Vítimas do
silêncio
Neste
18 de maio, celebramos o Dia Nacional contra a Violência Sexual de Crianças e
Adolescentes. A violência sexual se dá tanto por meio do abuso, que é a
utilização do corpo de uma criança ou adolescente, por um adulto ou
adolescente, para a prática de qualquer ato de natureza sexual, como pela
exploração sexual, que consiste na utilização sexual com intenção de lucro ou
troca, financeiro ou de outra espécie. A exploração sexual pode ocorrer em
redes de prostituição, pornografia, redes de tráfico ou turismo sexual.
Números
atualizados da Polícia Civil indicam que em 2011 foram registrados 3.914 crimes
de natureza sexual que tiveram crianças e adolescentes como vítimas, dos quais
2.655 foram estupros. Esses números, inferiores à realidade, já que a maioria
dos casos não é denunciada, representam alarmantes oito casos por dia, ou uma
ocorrência a cada três horas.
Um
dos principais fatores geradores da violência na vida adulta é a vitimização na
infância. A criança vítima de violência tende a reproduzi-la posteriormente,
seja contra outros adultos, seja contra seus próprios filhos. Em particular, a
violência sexual tem efeitos duradouros e profundos sobre a autoestima, gera
sentimentos de culpa, autodesvalorização, depressão, distúrbios no sono e na
alimentação e o comprometimento da capacidade de concentração e aprendizagem.
Não
obstante os danos causados, persiste na nossa sociedade uma mítica do silêncio
sobre as diversas violências que ocorrem dentro da família, entre elas o abuso
sexual, quase sempre perpetrado por um ente familiar. Esse silêncio, que busca
preservar a unidade familiar, provoca a omissão e a conivência dos demais
cuidadores da criança, a naturalização e a transferência dessa violência
através das gerações.
À
sociedade e ao poder público, cabe desvelar o oculto no âmbito familiar e
reafirmar a condição de sujeitos de direitos e o imperativo absoluto de
proteção às crianças. Essa obrigação se desdobra no dever de todos de denunciar
a violência sexual, desvinculados de estigmas, tabus e preconceitos.
A
Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos tem capacitado profissionais da
rede de atendimento a crianças e adolescentes, pois é fundamental que esses
servidores estejam preparados para identificar o abuso e para fazer os
encaminhamentos pertinentes.
A
SJDH também está mobilizando a sociedade em geral para o tema e, nesta
sexta-feira, realizará o ato público de lançamento da 10ª Jornada Estadual
contra Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, que visitará os municípios
do Interior e da Região Metropolitana com um único lema: violência sexual é
crime e sua prevenção e denúncia são deveres de todos!
*Diretora
de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos
do Estado, mestre em Direito pela Universidade de Harvard
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