ELIANE
CANTANHÊDE
Daqui a 50 anos
BRASÍLIA
- Sabe-se tudo de Getúlio Vargas, mas ele continua sendo um desafio, 82 anos
depois de ter chegado ao poder e 58 após a sua morte.
Personagem
político mais biografado da história brasileira, ele não para de ser objeto de
lançamentos, num grau crescente e desafiante de sofisticação e de detalhes.
Para
citar três: "Os tempos de Getúlio Vargas", de José Carlos Mello,
editora Topbooks, "Getúlio", de Lira Neto, Companhia das Letras, e "A
Esfinge dos Pampas", de Richard Bourne, Geração Editorial.
Isso
remete à força simbólica da imagem da primeira mulher presidente com os
antecessores pós-1985 para a instalação da Comissão da Verdade e o início da
Lei de Acesso à Informação. Momento histórico.
Sarney
foi o abre-alas inesperado e atrapalhou-se na economia, mas deixou a
redemocratização fluir.
Collor
foi uma perplexidade, um episódio que a história ainda não mastigou e digeriu. Boi
de piranha?
Itamar
e Fernando Henrique patrocinaram o Real e FHC quebrou monopólios e tabus. Mudou
o país.
Lula
fez uma revolução social e tornou-se quase um novo Getúlio na adoração popular.
Dilma
mantém a dinâmica do processo, tentando ser a síntese de tudo isso, mas fazendo
correções.
Toda
essa história, de 27 anos, é ainda sentida mais por corações, bolsos e
corporativismos do que pela razão, pela realidade e pelo todo.
Talvez
só daqui a 50 anos, visto sob perspectiva e por quem está por nascer, esse círculo
virtuoso e seus percalços possam ser avaliados, escritos e vistos como eles são.
(Lira Neto nasceu em 1963, nove anos após a morte de Getúlio.)
Será
a hora, então, de ajustar uma balança desequilibrada entre a percepção de hoje
sobre FHC e Lula. O melhor livro aliás, não será sobre um ou outro, mas o que
retratar a realidade: FHC, Lula e Dilma fazem parte de um mesmo processo e,
portanto, são capítulos da mesma obra.
elianec@uol.com.br
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