DANUZA
LEÃO
Quanto
vale um amor?
Pedir
uma indenização -em dinheiro- porque não foi amada pelo pai, eu acho estranho
Abandono
afetivo; e dá para entender que alguém entre na Justiça reivindicando uma
quantia porque não recebeu do pai o afeto que gostaria?
O
ideal seria que todos os pais cercassem seus filhos de carinho e de amor; mas
isso é o ideal, e o ideal, como todo mundo sabe, não existe. Alguns pais não são
nem carinhosos nem amorosos, que pena, mas a vida é assim, e uma filha que
nunca teve o afeto paterno tem que entender que alguns não têm afeto para dar,
ou apenas não conseguem -e tratar de viver a vida como ela lhe foi apresentada,
isto é, como ela é.
Pedir
uma indenização -em dinheiro- porque não foi amada pelo pai, acho estranho. Quem
põe um filho no mundo tem obrigações, mas amor dá quem pode, nem é um problema
de querer; e amor não se cobra, nem de pai nem de ninguém.
Fico
pensando na quantidade de crianças que moram com pai e mãe e que nem assim
recebem o afeto de que necessitam. Pais que não tomam conhecimento de suas
existências, não conversam, nem ao menos olham para seus filhos, mesmo vivendo
sob o mesmo teto. E aí, eles podem cobrar também?
Como?
Se cobrarem, e o juiz achar que têm razão, como estipular a quantia que vai
compensar a indiferença que sofreram durante anos? Vai depender da conta bancária
do pai, imagino, mas não acho que seja por aí. Quem foi abandonada e desamada
tem que dar a volta no passado sabendo, inclusive, que isso acontece muito mais
do que se imagina.
Abandono
afetivo; imagino que sejam raros os que não têm, lá no fundo do coração, a
sensação de não terem sido amados suficientemente pelo pai ou pela mãe. Todos
precisamos de amor, e quando somos crianças queremos todo o amor do mundo, e de
todas as pessoas. Com o tempo, aprendemos que se recebermos algum afeto -de
poucas pessoas, e só às vezes-, já está mais do que bom.
Carência
afetiva não é fácil; alguns conseguem -ou pelo menos dão a impressão- superar e
viver bem a vida; outros vão sofrer até o último suspiro, mas de uma coisa
tenho certeza: não se resolve com dinheiro. Se resolvesse, nenhum filho de
milionário teria o problema.
O
valor da indenização me põe curiosa, tanto quanto qualquer processo que
implique "danos morais". Já passou um pouco de moda, mas nos EUA, até
anos atrás, uma mulher assediada sexualmente -nada de muito grave, apenas uma
boa e competente paquera- processava o paquerador e exigia uma quantia por
danos morais; é possível?
É normal
que quando alguém sofre algum tipo de constrangimento precise de um desagravo (recompensa)
pelo que passou, mas querer em dinheiro é uma maneira muito esperta de dar a
volta por cima. Danos morais são vagos e dependem do foro íntimo de cada um.
Quando
vou a São Paulo e, no aeroporto, a Polícia Federal me faz tirar os sapatos, o
cinto e o relógio, e ainda por cima pega minha tesourinha de unhas e joga no
lixo, eu me sinto vítima de grande violência moral, e acho que teria direito a
uma indenização em $$$ -e ter a minha tesourinha de volta, claro-, mas ainda não
fiz isso por achar, entre outras coisas, ridículo; mas que é constrangimento, é.
E os
namoros que não deram certo, os casamentos que não vingaram porque o amor
acabou, será que isso também pode ser considerado abandono afetivo? Quanto vale
o amor que deixaram de nos dar?
O
mundo está muito louco.
danuza.leao@uol.com.br
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