CARLOS HEITOR
CONY
O cavalo e o camelo
RIO DE JANEIRO - Não é de hoje a
ideia de criar uma comissão para decidir sobre determinados problemas. Quando
um governo, uma empresa, um general em campanha enfrentam uma questão delicada,
o remédio é formar uma comissão para estudar, avaliar e, em caso extremo,
resolver a situação na base do "fizemos o que foi possível". Quando
se viu perdido em Waterloo, Napoleão fez uma coisa rara: convocou uma reunião
de generais. que decidiram esperar por reforços que não vieram.
A comissão que apurou o
assassinato de J. F. Kennedy até hoje é contestada. Dizem que um dos desenhos
mais bonitos da natureza, o cavalo, foi criado por Deus. O camelo, que embora
mais resistente é mais bagunçado, foi criado por uma comissão de sábios e
artistas.
Evidente que louvo a recém-criada
Comissão da Verdade para apurar os crimes que ocorreram no regime militar.
Admito que dona Dilma escolheu pessoas idôneas e bem-intencionadas para fuçar
os arquivos -se é que eles ainda existem.
De qualquer forma, uma faxina
cívica e moral deverá ser feita para que todos conheçamos a longa noite de
chumbo que atravessamos e não queremos atravessá-la de novo, num futuro que, de
repente, pode ser armado -e "armado" é bem o termo para o que houve.
Quando um executivo tem um
abacaxi nas mãos, a primeira coisa que faz para descascá-lo é nomear uma
comissão de alto nível para apurar os fatos, doendo a quem doer.
Acontece que um governo bem
azeitado, como o que dona Dilma pretende fazer, tem elementos próprios, dispõe
de toda a estrutura de um poder institucional e plenamente democrático para
revelar à nação os tumores que, embora recolhidos por qualquer acidente de
percurso, podem provocar uma metástase que colocará novamente em risco nossa
acidentada vida nacional.
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