29
de maio de 2012 | N° 17084
DAVID
COIMBRA
O que mais sei fazer
Outro
dia alguém me acusou de não saber perder.
Aí está
uma injustiça atroz e revoltante.
Se
existe alguém que sabe perder nessa ponta do Brasil, este alguém sou eu. A toda
hora estou perdendo, perco todos os dias, para todo mundo, nas mais variadas
circunstâncias. Logo, posso me gabar de ser um ótimo perdedor. Raríssimas são
as pessoas que me vencem numa disputa para decidir quem perde mais. Sei disso
porque estou cercado de vitoriosos, de campeões, de sabichões.
Eu
aqui, nessa minha platitude, tenho de me contentar com escassas vitórias e façanhas
que outros tantos já cometeram. Por esse motivo, as valorizo. Vibro com elas. Ganhei
uma! Ganhei uma! Mas não me exibo muito, por saber que, logo ali adiante, vou
perder outra vez. Aliás, já aprendi que só venço eventualmente porque perdi
frequentemente.
Às
vezes alguém me vê sorrindo e pensa que a alegria é fruto de petulância. “É um
convencido!”, conclui. Lembro de uma vez, quando de minha primeira passagem por
Zero Hora, que uma diagramadora olhou para mim e resmungou:
– Tu
deves ganhar muito bem, não é? Porque estás sempre rindo.
Mas é
o contrário! Estou sempre sorrindo porque sei que poderia ser pior. Contento-me
com as alegrias baratas da vida. Alguém que sabe que derrotas são sempre
iminentes fica feliz com pequenas vitórias. Isso em todos os campos, mesmo nos
que me despertam o mais rútilo interesse. As mulheres, por exemplo, são muito
boas para ensinar a lidar bem com a rejeição. Para efeito de ilustração,
tomemos um tempo em que eu sorvia total descompromisso emocional.
Digamos
que me interessasse por uma mulher diferente por dia. Não é um número exagerado.
Há muitas mulheres interessantes por aí. Isso não significa que você esteja
apaixonado, nem que anseie por ter um romance explosivo com ela. Não. Trata-se
apenas de uma consideração. Você olha para ela e cogita das possibilidades, Será
que posso me dar bem? Essa mulher poderia se repoltrear e se refocilar comigo?
Então,
se ela emite um mínimo sinal, qualquer coisa, pode ser um olhar veloz em que
cintile uma réstia de contentamento, bem, aí você faz uma minúscula tentativa,
qualquer coisa também, diz uma gracinha, só para ver se ela sorri de volta, se
existe uma única chance. E, neste caso, isso, apenas isso, o sorriso que volta,
esse sinal ínfimo já pode ser considerado uma vitória. Não que você ache que
vai dar certo, nada disso. A vitória se dá tão-somente porque não foi uma
derrota. Quer dizer: você não foi rechaçado de pronto, ela não despreza você,
EXISTE UMA CHANCE!
Mas,
voltando aos meus tempos de descompromisso total, tenho de admitir que esse
sinal de retorno não acontecia amiúde. Dava-se, digamos, uma vez por semana. Isto
é: de 30 tentativas mensais, eu obtinha sucesso em quatro e, dessas quatro,
talvez uma prosperasse (se tivesse sorte).
Em
um ano, portanto, eram 353 derrotas e 12 vitórias, em média. Um homem que passa
por isso se ceva na rejeição. Ele sabe que a cidade está cheia de mulheres que
o desprezam ou que o consideram insignificante. Talvez até o ridicularizem à socapa.
Assim, se você conquista uma vitória, uma só, ela tem de ser comemorada. Urge
convidar os amigos para um chope cremoso.
O
que quero dizer é que a rejeição e o fracasso não me roubam o bom humor. Estou
acostumado com eles. Mas vejo que a maioria das pessoas não está. A maioria das
pessoas é vencedora. Elas têm excelente opinião sobre si mesmas e, se sofrem um
revés, se abalam, se entristecem.
Ou
ficam revoltadas, como o Felipão. O Felipão, quando perde, se queixa do juiz. Vê
conspirações em cada canto do vestiário. Acontecia antes, quando ele estava no
Grêmio, acontece agora, quando ele está contra o Grêmio. A derrota nunca está nele,
está sempre fora dele. É a inconformidade dos vitoriosos. Que inveja deles.
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