18
de maio de 2012 | N° 17073
PAULO
SANT’ANA
Os notívagos
Não
raro, as pessoas elegem como grande auxiliar de sua vida um objeto ou um
aparelho.
Por
exemplo, há pessoas que se tornam úteis e ágeis com a cadeira de rodas.
Outros
dedicam ao seu carro uma relação ímpar de solidariedade, quase nada fazem sem
estarem dirigindo, dependem, para viver, do automóvel.
No
meu caso, o objeto que atualmente me empresta ajuda transcendental é a bengala.
Quando
eu era criança, a bengala era mais um objeto de adorno da elegância masculina
do que um apoio para a mobilidade.
No
meu caso, a bengala tornou-se uma prótese indispensável. É ela que não me deixa
cair, dentro da tontura incapacitante que me leva ao desequilíbrio.
É
linda minha bengala, com corpo (haste) brilhante de taquara e punho (cabo) de
prata, belíssima. E utilíssima.
Se
não tivesse recorrido à bengala, eu já teria tido inúmeras quedas e Deus sabe o
que teria sido feito de mim.
Uma
das profissões que mais exigem talento de quem as exercita é a de vendedor.
Eu
nunca fui bom vendedor. Quando tinha 22 anos de idade, fui vendedor das Massas
Ádria, no tempo em que essa marca era soberana em espaguetes, talharins e
massas para sopa.
Os
vendedores da Ádria usavam as “lambretas” para percorrer as zonas de vendas que
lhes eram afetas.
Eu
não tinha lambreta. Então, eu percorria dezenas de quilômetros por dia para
vender as Massas Ádria.
Trabalhei
por um ano no metiê. E fui um fracasso. Exemplo: eu não forçava a venda, se o
comprador não se aventurava em adquirir muito produto, eu não discutia com ele
e tirava um pedido com pouca quantidade.
Resultado:
nem me lembro se me despediram ou se eu pedi demissão, mas ficou claro que eu
era um desastre como vendedor.
Estou
escrevendo isso porque meu antigo companheiro de Jornal do Almoço, o humorista
Renato Pereira, especializou-se em dar palestras para vendedores, ensinando a
eles a arte de gerar impulsos de compras, agilizar negócios e estreitar laços
entre vendedores e clientes.
Além
disso, no ministério do Pereira junto aos vendedores, ele ensina como vender
com bom humor, instalando a alegria e a cordialidade entre vendedores e
compradores.
As
palestras do Renato Pereira têm alcançado grande sucesso.
Na
juventude e na maturidade, eu percorria bares e boates, cantava nesses
ambientes, confraternizava.
Por
isso, fui classificado de boêmio. Interessante é que nunca me classificaram
como notívago. E poderiam tê-lo feito, pois notívago é aquele que anda ou
vagueia pela noite.
Nas
florestas, as leoas e outras feras são caçadoras notívagas, valem-se da
escuridão para apanhar suas presas.
Ocorre-me
que as mariposas e os vaga-lumes são insetos notívagos.
Aquele
ser humano que costuma dormir durante todo o dia geralmente é notívago.
As
pessoas notívagas são mais felizes, porque na noite encontram outras pessoas de
paz.
E de
dia as pessoas se tornam mais agressivas. Quem sai para trabalhar de dia entra
na guerra da sobrevivência. Quem sai só à noite circula na paz dos que não se
atiram à luta insana da vida.
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