31
de maio de 2012 | N° 17086
ARTIGOS -
Denise Souza Costa*
Desconectado e
insustentável
O sistema
educacional ultrapassado, a ausência de uma política pública permanente que dê
prioridade absoluta à educação básica e uma atenção especial ao Ensino Superior
voltado à inovação e à docência, no Brasil, geram graves consequências na
dimensão social e econômica.
A primeira
resulta na falta de mobilidade social das camadas mais vulneráveis e a segunda
(resultado da primeira), na falta de trabalhadores qualificados, desacelerando
a economia e prejudicando a competitividade das empresas.
O livro do
Banco Interamericano de Desenvolvimento, Desconectados – Habilidades, educação
e emprego na América Latina, traz uma pesquisa com 1,2 mil empresas do Brasil,
da Argentina e do Chile, segundo a qual 80% dos empresários revelaram que seu
maior problema de recursos humanos é encontrar jovens que saibam redigir um
simples currículo, ou de comunicar de maneira eficiente um problema a seu
superior ou chegar pontualmente ao trabalho.
Este estudo
mostra que as escolas latino-americanas estão totalmente desconectadas do mundo
dos negócios, e afirma que “há uma urgente necessidade não só de enfrentar os
problemas da qualidade da educação, mas também a relevância da educação para
facilitar a transição dos jovens para o mundo empresarial”.
E ressalta
que “as habilidades, tanto as do conhecimento quanto as socioemocionais, são
fundamentais para o desenvolvimento contínuo de crianças e jovens dentro do
sistema educacional e posteriormente no mercado de trabalho”.
O BID
recomenda que haja um âmbito de intervenção mais amplo na escola, que integre o
desenvolvimento de habilidades não cognitivas ou socioemocionais, reformando
não só o conteúdo curricular, mas também as práticas pedagógicas com esse
objetivo. Sugere a criação de mecanismos que vinculem as escolas ao meio,
especialmente ao âmbito produtivo.
Propõe a
aplicação de sistemas de avaliação e informações aliados às habilidades que se
busca desenvolver, não só conhecimentos acadêmicos, mas também habilidades não
cognitivas relevantes para o desenvolvimento no trabalho e na vida. Destaca a
importância de professores bem preparados e esquemas de incentivos consistentes
com os resultados exigidos pelas metas propostas.
Enfatiza a
necessidade de uma maior conexão entre os sistemas educacionais e o setor privado.
Um lado buscando desenvolver as aptidões cognitivas, de acordo com as
necessidades e demandas do mercado; de outro lado, desenvolver as aptidões não
cognitivas, visando ao desenvolvimento pessoal, ao relacionamento social e ao
exercício da cidadania.
Se não
houver uma política pública permanente, renovada e contemporânea, integrando
Estado, família e sociedade, fatalmente o crescimento econômico nacional vai se
desacelerar, as desigualdades sociais vão persistir e seremos um país
insustentável.
*CONSULTORA
DA UNESCO, PRESIDENTE DA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA OAB/RS
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