Xuxa e Mano Brown
RIO
DE JANEIRO - A entrevista de Xuxa que levantou a audiência do
"Fantástico" ainda causa controvérsia. As reações variam entre os
extremos de exaltação da coragem da apresentadora e de desprezo por um suposto
golpe de marketing.
Xuxa
pareceu sincera, mas foi pouco explícita sobre os abusos que sofreu. Além de
mostrar a persistência de um personagem público infantilizado, essa lacuna pode
comprometer o efeito de incentivar famílias e crianças a ficarem atentas e
denunciarem violações do mesmo tipo.
Ela
foi estuprada, foi apalpada? Os agressores demonstraram prazer, ameaçaram-na,
disseram que estavam brincando? Onde as agressões ocorreram?
É
possível que tal detalhamento fosse considerado impróprio ao horário nobre da
TV. Mas pode ser mais difícil do que parece detectar e prevenir as várias
formas de abuso sexual na infância. Todo contato físico entre pais e filhos,
tios e sobrinhos, deve ser considerado suspeito?
O
depoimento de Xuxa contrasta com o tom assertivo da entrevista de Mano Brown
que a "TV Folha" exibiu também no domingo. Como sujeito ativo e não
vítima, o líder do Racionais defendeu os 1.300 sem-teto que ocupam há cinco
anos um edifício no centro paulistano.
Falou
da mentalidade reacionária que, por exemplo, leva o Judiciário a uma
interpretação estrita (e até anticonstitucional) do direito de propriedade. Nem
juízes nem autoridades sentem-se compelidos a uma solução que mantenha as
famílias "perto do hospital, do metrô, a cinco minutos do trabalho".
Que
toda a sociedade não se dê conta de que ganharia com isso tanto quanto os
sem-teto é prova de que, apesar do boom de consumo e de emprego, ainda estamos
em transição, disse Brown. "O Brasil não sabe se é um país moderno ou se
ainda está em 1964."
Nenhum comentário:
Postar um comentário